Portugueses antecipam compra de carro antes de os preços subirem

<br/> Reforço de frotas de <em>rent-a-car </em>e efeitos da nova norma de emissões explicam subida nas vendas de automóveis em julho, a segunda maior do ano. Renault lidera tabela.
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Os portugueses compraram, em julho, mais 77 carros por dia do que no ano passado. Ao todo, foram vendidos 19 961 automóveis ligeiros, mais 2389 do que há um ano. É um aumento de 13,6%, segundo os dados da ACAP - Associação Automóvel de Portugal. O agravamento dos preços, esperado em setembro, devido às novas normas de emissões, e o reforço das frotas de rent-a-car explicam a aceleração do mercado.

"Começam já a sentir-se os efeitos do agravamento dos preços dos veículos novos", reconhece Jorge Neves da Silva, secretário-geral da ANECRA - Associação Nacional das Empresas do Comércio e da Reparação Automóvel, em declarações ao DN/Dinheiro Vivo. A partir de 1 de setembro, espera-se um aumento generalizado do preço dos carros novos por causa da entrada em vigor da nova norma de medição de emissões poluentes (WLTP). Estas novas regras irão implicar o agravamento do montante do ISV (imposto sobre veículos) e estão a gerar uma corrida aos concessionários, alimentada também por campanhas de promoção.

Marcas como a Fiat e a Opel lançaram nas últimas semanas campanhas publicitárias para apoiar a troca de veículos usados por outros novos, antes da entrada das novas regras. Na Opel, por exemplo, o Astra será o modelo mais afetado pelas novas regras: só em impostos, este carro vai custar mais 2800 euros, na versão com motor 1.6 a gasóleo. O resultado das promoções já está à vista: as vendas da Fiat cresceram 72,1% em julho e serviram para reforçar o terceiro lugar desta fabricante na tabela. A Renault, ainda assim, mantém a primeira posição na tabela de vendas - cresceu 21,3% no último mês. Logo a seguir, surge a Peugeot, que aumentou as vendas em 11,4%.

Renault, Peugeot e Fiat não beneficiaram apenas da confiança dos consumidores. "São três marcas que também são muito procuradas pelo rent-a-car", adianta Jorge Neves da Silva. O aluguer de automóveis "é o principal responsável pelo crescimento do mercado. As empresas reforçaram as compras no último mês, tendo em vista a melhoria do tempo. Junho, como foi mais frio do que é habitual, foi um mês mais fraco no reforço das frotas".

Comerciais travados pela economia

No mercado automóvel, foram matriculados 23 300 veículos em julho, mais 10,5% face ao mesmo mês de 2017. Entre janeiro e julho deste ano foram postos em circulação 179 735 automóveis novos, mais 6% do que nos primeiros sete meses de 2017. O aumento só não foi mais significativo por causa da quebra de 1,8% na compra de comerciais ligeiros. Um aviso para a economia portuguesa.

"Nota-se um arrefecimento, e mesmo uma estagnação da atividade, em alguns setores da economia, como a agricultura, o comércio e as micro e pequenas e médias empresas", alerta Jorge Neves da Silva. Cenário que poderá manter-se nos próximos meses neste segmento de mercado.

A curto prazo, pelo contrário, espera-se um forte crescimento das vendas de automóveis. "Em agosto, os portugueses deverão acelerar a compra de automóveis por causa do esperado aumento de preços." Nos diesel, por exemplo, o Peugeot 2008 deverá passar a custar, a partir de setembro, cerca de 18 mil euros, mais 5,26%, o maior aumento entre os dez veículos mais vendidos. Nos carros a gasolina, o Renault Mégane 1.2 vai encarecer 3,93%, obrigando a desembolsar mais 852,2 euros, no caso de os níveis de emissões de dióxido de carbono (CO2) por quilómetro aumentarem 10%.

O que se vai passar?

Numa primeira fase da nova medição das emissões, a partir de 1 de setembro, entrará em vigor um ciclo ajustado transitório, a que se atribuiu o nome de NEDC2, que irá provocar um aumento médio das emissões de CO2 de cerca de 10%. A partir de janeiro, entrará em cena a norma WLTP por inteiro (a par do Real Driving Emissions - RDE), que deverá dar dados de consumos e emissões mais realistas. E impostos mais altos.

Os aumentos de preços por causa da nova norma de emissões apenas poderão ser moderados se o governo português seguir a recomendação da Comissão Europeia e promover a neutralidade fiscal na transição entre ciclos de medições. O relatório do grupo de trabalho que estuda o fim dos "incentivos prejudiciais" ao ambiente, depois de mais um adiamento, deverá ser entregue em setembro.

O documento terá de incluir um "diagnóstico da fiscalidade sobre a energia e propostas de medidas de atuação visando a introdução dos sinais corretos para a descarbonização da economia". Mas este processo só deverá ficar concluído no final do ano e ter impacto a partir de janeiro de 2019. Nessa altura, a entrada em definitivo do método WLTP pode representar uma subida de "40% ou 50%" no valor do ISV a pagar, sobretudo nos segmentos mais altos. O que também terá impacto no preço de venda ao público destes veículos. Se nada for feito, os portugueses poderão contar com dois aumentos de preços em pouco mais de quatro meses.

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