Portugueses adotam cada vez mais hábitos saudáveis, mas estão mais insatisfeitos com SNS
Entre março e abril deste ano, 32 mil europeus de 16 países, incluindo portugueses, foram inquiridos sobre saúde preventiva, saúde mental e sistemas de prestação de cuidados. Os resultados estão prontos e vão ser divulgados hoje pela empresa farmacêutica Stada. O objetivo é colocar em cima da mesa temas que promovam o debate sobre o caminho que cada país está a fazer no sentido de uma vida mais saudável, da promoção da saúde e ainda sobre a performance das autoridades e das unidades de saúde.
Segundo explicou ao DN a diretora-geral da Stada em Portugal, Ana Ferreira, "este relatório é dos mais abrangentes que há na área da Saúde" - começou em 2014 só com estudos na Alemanha, em 2019 passou a analisar mais nove países e, desde 2021, também Portugal foi incluído. "O nosso objetivo é gerar uma discussão saudável com todos os stakeholders (agentes da área) sobre o que podemos fazer para melhorar a saúde preventiva, o acesso, a sua equidade e a satisfação dos utentes para se providenciar mais qualidade na saúde para todos. No fundo, são todos temas que vão ao encontro dos objetivos da Organização Mundial da Saúde (OMS)", frisa.
Na edição do Stada Health Report 2023 foram inquiridos 32 mil pessoas, duas mil portuguesas, entre os 18 e os 99 anos, como em qualquer outro país, e dos quais 53% eram mulheres e 47% homens.
Mais de 42% dos inquiridos estavam nas faixas etárias acima dos 55 anos, 35% entre os 35 e os 54 anos e 23% entre os 18 e os 34. E alguns dados recolhidos acabam por surpreender, desde o logo o facto de 73% dos inquiridos assumirem que passaram a adotar mais hábitos saudáveis. Por outro lado, 53% referiram estar insatisfeitos com a performance do Serviço Nacional de Saúde (SNS), um valor que caiu em 21pp (pontos percentuais) em relação a 2021, o que para Ana Ferreira "é natural".
Em 2021, o relatório Stada revelava que 74% dos portugueses estavam satisfeitos com o SNS, em 2022 este valor desceu para 64% e, este ano, para 53%. "É natural que, no ano da pandemia, a satisfação dos portugueses tenha sido superior, por todas as ações que foram encetadas pelo SNS e pela resposta das nossas autoridades de saúde à situação. Portanto, diria que, nos anos subsequentes, também é normal que este nível de satisfação possa decair".
Ana Ferreira prefere destacar os pontos positivos recolhidos por este estudo, nomeadamente a percentagem elevada de portugueses que, individualmente e no seu papel de cidadão, estão a mudar os seus hábitos para um estilo de vida mais saudável e a procurar mais aconselhamento médico. Dos inquiridos, 34% optaram por dietas equilibrada, 24% têm procurado mais aconselhamento do médico de família, 21% realizaram mais rastreios de saúde, 20% aumentaram a ingestão de vitaminas, 12% procuraram mais atividades fitness e 12% até usaram aplicações de saúde para as fazer.
Contudo, 48% dos inquiridos afirmaram não ter comparecido a nenhum dos rastreios preventivos, o que está cima da média global obtida entre os 16 países participantes, que é de 42%. "A área da saúde preventiva é uma preocupação. É aquela em que se deve ter mais intervenção, nomeadamente nos rastreios, porque foi das atividades que decaiu com a pandemia. Mas é isto mesmo que pretendemos debater no dia 3", refere a diretora-geral da Stada em Portugal - uma empresa que surge em 1895, quando um grupo de farmacêuticos alemães decidiu criar um laboratório de medicamentos em Dresden. Hoje, dedica-se também à investigação.
Destaquedestaque"Apesar de tudo o que temos enfrentado, como as crises pandémica e geopolítica, 65% dos portugueses considera que tem uma boa Saúde Mental, o que é muito positivo"
Mais há mais. Dos inquiridos, 38% referiram não saber que rastreios preventivos poderiam fazer, 29% dissseram mesmo não ter condições financeiras para os fazer e 18% acreditam que não têm necessidade de os fazer. Há uma percentagem de 11% que assume não ter tempo para os fazer. Uma situação que parece um contra-senso em relação aos 73% que mudaram os seus hábitos de vida para usufruírem de uma saúde mais preventiva.
Mas, na globalidade, Ana Ferreira diz que o estudo demonstra que "Portugal até está no lado positivo na balança da literacia em Saúde, quando se questiona sobre o uso de medicação ou sobre informação relativa a medicamentos. Estamos acima da média europeia". Aliás, segundo o estudo, "Portugal ultrapassa a média global da Europa na realização de rastreios oncológicos", havendo também uma melhoria na realização de rastreios dentários e na realização de análises.
Dos que fazem rastreios, 72% dizem que o fazem por considerarem que são importantes para a sua saúde. E 58% revelaram ter algum conhecimento nesta área e desejam manter-se informados e atualizados.
Outro dado surpreendente é o facto de 94% dos inquiridos ter dito que aceitaria fazer um teste genético para avaliar os possíveis riscos para a sua saúde, uma percentagem muito acima do que foi a média global da Europa alcançada neste item: 81%. Ana Ferreira concorda que é um dado surpreendente e que, talvez, "tenha a ver com o nosso mindset de começarmos a trabalhar proativamente no diagnóstico".
Por outro lado, 65% considera que tem uma boa Saúde Mental, mas em relação ao futuro os portugueses já não são assim tão otimistas como os povos dos restantes países europeus participantes, entre os quais estão a Alemanha, a Bélgica, os Países Baixos, a Áustria, a França, a Espanha, etc. As questões financeiras, a perda de um familiar ou amigo, problemas de saúde e a guerra foram considerados como as principais preocupações dos portugueses. Tendo sido apurado que um em cada cinco portugueses acaba por guardar para si todos os seus medos e preocupações, não falando com ninguém sobre estes temas.
Relativamente ao SNS, 53% manifestou estar satisfeito. Entre os 16 países, Portugal ocupa a 11.ª posição quanto a este item. O grau de satisfação é superior nas faixas etárias mais jovens, entre os 18 e os 34 anos (63%) e entre os 35 e 54 anos (51%).
No geral, a diretora da Stada destaca que estes dados revelam "uma maior consciência dos portugueses sobre como caminhar para estilos de vida mais saudáveis, uma preocupação com o bem-estar e com a melhoria da Saúde Mental." Apesar de "tudo o que temos enfrentado, como as crises pandémica e geopolítica, 65% portugueses considera que tem uma boa Saúde Mental, o que é muito positivo, revelando também o bom caminho que estamos a fazer. Não só no SNS, mas também do ponto de vista individual". Mas há algo em que se tem de trabalhar, nomeadamente no número de portugueses que "ainda não está sensível ao facto de ter que fazer rastreios preventivos".
anamafaldainacio@dn.pt