Portuguesa Catarina Fernandes participou nas observações
Há pouco mais de um ano a trabalhar no grupo de Michaël Gillon, da Universidade de Liège, a investigadora portuguesa Catarina Fernandes, de 31 anos, é uma das autoras do artigo hoje publicado na revista Nature sobre a descoberta dos sete novos exoplanetas parecidos com a Terra. A ela coube-lhe integrar a equipa responsável do Observatório Astronómico de África do Sul (SAAO) em Junho e Julho do ano passado, para monitorizar esta estrela no que se esperava ter um trânsito do planeta Trappist1-d.
"Foi uma sorte, e foi a primeira vez que fiz observações astronómicas", contou ao DN em entrevista telefónica. "Era preciso fazer aquela observação no telescópio SAAO, de um metro, que está instalado perto da Cidade do Cabo, na África do Sul, e eu era a única no grupo de Liège que na altura estava disponível para ir." Foi. E, durante uma semana a sua rotina mudou radicalmente. "Acordava a meio da tarde, tomava o pequeno-almoço à hora de almoço e, depois de o Sol se pôr, fazia as observações, que duravam toda a noite, e que incluíram outras estrelas, além da Trappist1."O trânsito destes planetas dura apenas algumas horas e a órbita é de apenas alguns dias, se fossem apenas 3 planetas saberíamos quando seria o próximo trânsito. Juntando-se aos outros grupos de follow-up da Trappist1-d, o trabalho do grupo do SAAO ajudou a perceber que afinal estaríamos na presença de mais do que três planetas e seguiu-se um outro período de observações incluindo o telescópio espacial Spitzer."
Para Catarina Fernandes, a principal importância da descoberta do novo sistema solar, com os seus sete planetas rochosos de tamanho idêntico à Terra e com temperaturas também semelhantes, é a de que ele servirá a partir de agora como referência "para o estudo de atmosferas de exoplanetas, porque fornece a informação sobre o que é essencial observar e estudar", diz.
Catarina Fernandes fez a licenciatura em Física na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, ganhou uma bolsa para fazer mestrado, também em Física, mas em Copenhaga, e depois regressou a Portugal com uma bolsa de investigação na área da biofísica. Está há pouco mais de um ano com uma bolsa de doutoramento na Universidade de Liège, onde vai ficar durante mais dois anos, a trabalhar no projeto Speculoos, que utilizando telescópios terrestres com um metro de comprimento, como o SAAO, na África do Sul, vai fazer um rastreio sistemático de estrelas anãs-vermelhas na Via Láctea, para se poder identificar novos sistemas solares do tipo do Trappist-1.
* Título e segundo parágrafo alterado para corrigir informação