Cidade de Palma caiu nas mãos dos rebeldes. Um português ferido
A cidade de Palma, no nordeste de Moçambique, caiu nas mãos de extremistas islâmicos que a cercaram desde quarta-feira passada, informaram neste sábado fontes das forças de segurança moçambicanas.
"As forças governamentais retiraram-se de Palma, assim que a cidade foi tomada de fato pelos grupos armados extremistas", afirmou uma fonte à agência noticiosa francesa AFP.
Outra fonte confirmou que os insurgentes assumiram o controlo da cidade, mas disse que os combates continuavam na região.
Um cidadão português ficou gravemente ferido durante uma operação de resgate das forças moçambicanas para retirar cerca de 200 pessoas refugiadas num hotel da cidade, confirmou o ministério dos Negócios Estrangeiros.
À TSF, um outro português, Ricardo Martins, que vive na região que tem sido fustigada por terroristas, contou que a situação "é muito grave". "A indicação que nós temos é que, de facto, aquilo em Palma está muito mau. Conseguiram destruir vários carros, mataram expatriados. É a informação que temos neste momento", descreveu o empresário, que vive em Pemba.
A localidade fica a 10 quilómetros de uma enorme refinaria de extração de gás natural do grupo francês Total.
Neste que é o ataque mais próximo da refinaria de gás, em três anos de insurgência na província de Cabo Delgado, os extremistas atacaram a cidade de Palma, obrigando à fuga das cerca de 200 pessoas, incluindo estrangeiros, que desde quarta-feira estavam refugiados no hotel Amarula.
Na quinta-feira (25 de março) começaram operações de resgate do hotel para dentro do recinto protegido da petrolífera Total, a seis quilómetros, ações que continuaram na sexta-feira, altura em que uma das caravanas foi atacada, disse à Lusa uma fonte que acompanha as operações.
Alguns trabalhadores estrangeiros acabaram por morrer na emboscada realizada pelos rebeldes durante a operação de resgate levada a cabo pelos militares moçambicanos, indicaram fontes das forças de segurança e alguns sobreviventes, segundo relata a agência AFP.
Na altura foram reportadas sete mortes, mas o número de vítimas é ainda incerto.
Em resposta à agência Lusa, o ministério explica que o português foi retirado da península de Afungi para receber tratamento médico adicional e que "a embaixada em Maputo está a acompanhar a situação e a procurar identificar outros portugueses no local para prestar acompanhamento e apoio".
O português ficou gravemente ferido numa operação de resgate de Palma junto aos projetos de gás natural de Cabo Delgado, norte de Moçambique, disseram à Lusa duas fontes que acompanham a situação.
O ferido está a caminho de Pemba, capital provincial de Cabo Delgado, 250 quilómetros a sul, por via aérea, a partir do aeródromo do recinto do projeto de gás natural, na península de Afungi, para onde foi resgatado juntamente com outras pessoas.
Um residente que, juntamente com outros, fugiu de Palma, disse na sexta-feira à Lusa que são visíveis corpos de adultos e crianças assassinadas nas ruas da sede de distrito.
A Comissão Nacional dos Direitos Humanos de Moçambique pediu na sexta-feira apoio para o resgate de cerca de 600 funcionários do Estado que estão nas proximidades de Palma.
O ataque é o mais grave junto aos projetos de gás após três anos e meio de insurgência armada à qual a sede de distrito tinha até agora sido poupada.
A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Algumas das incursões foram reivindicadas pelo Estado Islâmico entre junho de 2019 e novembro de 2020, mas a origem dos ataques continua em investigação.
*atualizado às 16.54