Portugal vai avançar com candidatura à liderança da CPLP

Secretário-executivo, o moçambicano Murade Murargy, tem atacado Portugal para impedir um candidato ao mais alto cargo
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O governo português vai avançar com uma candidatura à liderança da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). "Portugal não tem conhecimento de nenhum acordo verbal" que impeça a apresentação de um candidato à liderança da CPLP, como o que tem sido invocado pelo atual dirigente, o moçambicano Murade Murargy - de que o país em que está a sede da organização não se pode candidatar à direção -, garantiu ontem ao DN fonte oficial do ministério dos Negócios Estrangeiros. Portugal deverá assim assumir o cargo de direção de acordo com o sistema de rotatividade por ordem alfabética, previsto nos estatutos da organização.

A declaração do MNE ao DN desmente Murade Murargy, secretário executivo da CPLP, que, nos últimos dias, tem protagonizado um ataque direto contra Portugal para tentar vetar a eleição do nosso país para o mais alto cargo na organização. O dirigente moçambicano invoca a existência de um "acordo de cavalheiros" durante a constituição da organização, que assentará no facto de o país onde está a sede (no caso Portugal) não poder assumir o secretariado executivo. De acordo com a edição de sábado do jornal "Sol", o "veto" a Portugal teria também o apoio de Angola e do Brasil. Segundo o semanário, Angola veria nesta situação uma forma de tentar pressionar as nossas autoridades por causa do processo de corrupção que envolve o vice-presidente Manuel Vicente. Da parte do Brasil, é conhecido o desinteresse de Dilma Roussef em relação à organização. Ontem, em declarações à Lusa, o primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, também alinhou com os países africanos e corroborou o apoio à versão de Murargy.

No pingue-pongue de declarações e desmentidos, que estão a causar um inevitável embaraço diplomático, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros do PSD, António Monteiro, confirmou a posição do atual titular da pasta, Augusto Santos Silva, refutando também Murargy. "Eu estive na fundação da CPLP e não houve qualquer acordo nesse sentido", sublinhou o embaixador. "A decisão, aprovada por unanimidade e que consta dos estatutos, foi que a escolha do secretário executivo seria por rotatividade, por ordem alfabética dos países membros", salientou António Monteiro.

O ex-chefe da diplomacia portuguesa, que esteve na génese e é considerado o "pai" da CPLP, lembrou que "também foi por unanimidade o acordo para que a sede da organização fosse em Portugal". Foi assim que o primeiro secretário executivo veio de Angola. Marcelino Moco, ex-primeiro-ministro angolano, tal como António Monteiro, também nega a existência de "qualquer acordo verbal", como o citado por Murade Murargy. António Monteiro lamentou e estranhou a situação, sublinhando que a organização "sempre conseguiu resolver por consenso todos os diferendos, mesmo em relação a questões muito mais graves. O diálogo sempre foi a arma mais forte da CPLP e nunca a chicana pública". O Governo português ainda não formalizou a apresentação da candidatura, mas o tema será levado à reunião extraordinária de ministros dos Negócios Estrangeiros, que decorre na próxima semana, em Lisboa. "A questão das condições da designação do novo secretário executivo será um dos temas em análise no encontro ministerial de 17 de março", referiu à Lusa fonte do MNE.

Neste momento, há pelo menos três nomes que estão a ser falados para esta corrida: Vítor Ramalho, atual presidente da Unidade de Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA); João Gomes Cravinho, diplomata e ex-secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação do PS e Luís Campos Ferreira, que ocupou o mesmo cargo, no executivo liderado por Pedro Passos Coelho (ver caixa). Mas fontes oficiais garantem que nenhum deles ainda foi contactado pelo Governo. Vítor Ramalho, segundo fonte diplomática, teria a vantagem de ser "conhecido e respeitado nos países africanos de língua portuguesa, principalmente em Angola, de onde é natural". Ainda este mês, Vítor Ramalho representou o PS no funeral de Lúcio Lara, um dos fundadores do MPLA e esteve com os mais altos dirigentes do Governo e do partido. Na agenda levava também a organização da assembleia-geral da UCCLA naquele país e conseguiu ainda que o governador de Luanda, Higino Carneiro, concordasse em realizar um "fórum económico" com empresas de ambos os países. "Isto só demonstra que não há má vontade de Angola em relação a Portugal", sublinhou fonte que acompanhou a visita. Os olhos estão agora postos em Marcelo Rebelo de Sousa, sensível às questões africanas. O seu homólogo moçambicano, Filipe Nyusi vem à tomada de posse, o que pode ser uma oportunidade para se tentar conquistar o apoio deste país.

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