Portugal tem poucas mulheres para as revistas masculinas
"Que rico emprego!", é apenas um dos comentários que os responsáveis pelas revistas masculinas, como a Maxmen, GQ, FHM ou Playboy ouvem com regularidade por parte dos amigos. Trabalhar numa publicação que "mostra gajas boas" (outra expressão muito utilizada) é conviver num ambiente mais descontraído do que noutro tipo de publicações, sendo que, claro as responsabilidades são as mesmas, tal como as dificuldades, que, neste caso, são específicas. Mas o maior problema de uma revista masculina é encontrar uma mulher disponível para fazer capa, que tenha as características exigidas.
"Sentimos as dificuldades inerentes ao mercado português, que tem poucas mulheres mediáticas", começa por explicar ao DN o director da Maxmen, Luís Merca. "Por outro lado, têm de ser portuguesas, bonitas e não terem feito capas de outras revistas concorrentes", diz ainda o responsável, acrescentando que há um tempo de "luto" de alguns meses para uma mulher que foi capa da Maxmen poder ser capa da concorrência, sendo que esta também não tem grande interesse em repetir pessoas que já saíram noutras publicações.
Sem revelar preços, Luís Merca diz que as mulheres que fazem capa da sua revista são, obviamente, pagas, variando a quantia conforme a personalidade fotografada. Mas não é só o valor pago que atrai várias mulheres a despirem-se e fazer capa de uma revista masculina. É a exposição mediática que isso lhes dá e o abrir de algumas portas que lhes pode proporcionar. Isto, claro, no caso de figuras mais desconhecidas ou em ascensão.
Mas como se decide quem vai ser capa? "A decisão final é minha, mas ouço a equipa da Maxmen", afirma Luís Merca. "Eu não tenho tempo para estar atento a tudo e a minha equipa repara se há uma rapariga nova que está a surgir, se há uma actriz dos Morangos com Açúcar que se está a destacar, por exemplo...", refere. E nunca falta assunto numa revista tão específica? "Não, sentimos é falta de mais páginas, tantos são os assuntos interessantes que queremos publicar". E que assuntos são esses? "Mulheres, sexo, carros, sexo, gadgets, sexo...", responde meio a sério meio a brincar.
O director da FHM, João Godinho, tem a mesma opinião que o seu "rival" da Maxmen: "O principal problema [de arranjar figuras femininas para fazer capa] é, sem dúvida, o tamanho do País. Há poucas celebridades. E por mais voltas que se dê à cabeça, é inevitável cair-se sempre nas mesmas pessoas", explica. E em que se distingue a FHM das suas concorrentes? "A nossa revista aposta muito no conteúdo. Procuramos ser o expoente máximo do jornalismo de entretenimento. Queremos fazer perguntas que ninguém faz, aos entrevistados que ninguém se lembra de entrevistar, por exemplo. Mais do que as meninas de capa, queremos que os leitores nos comprem pelo que somos: uma revista divertida, sexy e útil", responde.
A entrada de uma nova revista masculina, a Playboy portuguesa, não preocupa João Godinho que afirma: "Só vem provar o que já sabíamos. Este segmento é importante e cada vez mais relevante. Julgo que há espaço para todos neste mercado". E qual foi a FHM mais vendida até hoje? "A número 1, com a Rita Andrade, com 104 mil exemplares. Mas as edições de lançamento são sempre atípicas, já que existe o factor curiosidade e normalmente vendem sempre bem. A edição de Fevereiro de 2008, com Luciana Abreu, bateu todos os recordes, com 80 mil exemplares de circulação paga", revela. Além da dificuldade da capa, João Godinho identifica outro problema na produção de uma revista masculina: "Conseguir histórias e artigos nacionais surpreendentes. Vivemos num país cinzentão, demasiado neo-realista e onde há muito poucas coisas surpreendentes e glamourosas".
Já Domingos Amaral, director GQ, realça ao DN que a sua publicação tem menos dificuldades de arranjar uma mulher para a sua capa porque "a exigência para mostrar o corpo é menor". E acrescenta: "Temos um conceito de maior sofisticação e glamour. Tendo um posicionamento destes, há um grupo grande de personalidades que gostam de aparecer na GQ e não nas outras revistas. Não temos uma imagem tão sexualmente carregada". Quanto à Playboy, Domingos Amaral diz que "a Europa não tem a tradição dos EUA e Brasil, mas que faz sentido existir no nosso País".