Portugal tem pela primeira vez mais pessoas divorciadas do que viúvas

Foram muitos os casais que se separaram na última década. Há menos casamentos, também crianças, dados a que não é alheia a pandemia. Famílias são cada vez mais pequenas.
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O Instituto Nacional de Estatística revelou esta semana mais dados sobre os Censos 2021 e a confirmação de uma nova estrutura familiar. Somos menos e estamos mais sozinhos, com mais separações e, pela primeira vez, com mais divorciados do que viúvos. As famílias estão mais pequenas e os dados da natalidade indicam que seremos ainda menos no futuro. As mulheres estão em maior número que os homens, o que se deve à sua maior longevidade.

Somos 10 344 802 habitantes em Portugal (menos 2,1 % que há dez anos) e continuamos a ter uma população maioritariamente solteira (43,4%), o que, até, aumentou ligeiramente. Os casados (41,1 %) estão a perder terreno para os divorciados, estes últimos com mais 2% que em 2011, totalizando 8 %. Também a proporção de viúvos diminuiu ligeiramente (7,5 %) e, pela primeira vez, foi superada pelos divorciados.

Há mais homens solteiros do que mulheres e, em média, eles casam mais tarde, com 34,9 anos (elas aos 33,4). Na viuvez a tendência inverte-se - as viúvas representam 11,7% dos residentes enquanto que os viúvos são 3%.

As mulheres vivem mais anos, têm uma esperança de vida à nascença de 83,67 anos; no caso dos homens é de 78,07. Valores que poderão ser alterados com a s vítimas da pandemia mas manter-se-á esta discrepância. A população masculina (4 921 170) perdeu preponderância para a feminina (5 423 632).

"A relação de masculinidade é de 90,7 homens por 100 mulheres, refletindo um maior desequilíbrio entre os volumes populacionais dos dois sexos, comparativamente com 2011, ano em que esta relação era de 91,5 para 100", lê-se na apresentação dos resultados provisórios dos Censos 2021. A data de referência (momento censitário) é 19 de abril.

Nos últimos dez anos, até nasceram mais bebés do sexo masculino. Estão em maioria nas faixas etárias dos 0 aos 24 anos, prevalência que desaparece na idade adulta, em especial nos grupos acima dos 64 anos. Eles são mais frequentemente vítimas de acidentes e de doenças.

Os Censos indicam, também, que diminui a dimensão dos agregados domésticos, cujo número aumentou na última década. A maior longevidade e menos recasamentos entre o sexo feminino, faz com que elas sejam as figuras centrais nos agregados familiares, cuja dimensão tem vindo a diminuir. Elas estão maioritariamente nas famílias monoparentais.

Em 2021, a dimensão média dos agregados domésticos privados é de 2,5 pessoas por lar, sendo que um terço é composto por apenas dois elementos. A média em 2011 era de 2,6 pessoas. As regiões autónomas dos Açores e da Madeira têm famílias maiores que no Continente, 2,8 e 2,6 pessoas por agregado, respetivamente.

Os agregados de uma pessoa (unipessoais) representam 24,8% , tendo o seu número aumentado 18,6% na última década. Em contrapartida, as famílias numerosas têm perdido peso no país. Os agregados com quatro pessoas representam 14,7% das famílias e os de cinco apenas 5,6%, quando, em 2011, significavam 16,6% e 6,5%, respetivamente.

A Área Metropolitana de Lisboa tem uma maior representatividade de agregados unipessoais (28,2%), por oposição à Região Autónoma dos Açores (20,3%).

Há mais agregados domésticos privados que institucionais (lares, por exemplo), mas estes tiveram um aumento de 13,3 % (5476 no total) desde 2011. O número de lares privados cresceu 2,6 %. Aumentou em todas as regiões à exceção do Alentejo, onde o valor decresceu 3,7%.

Há mais alojamentos destinados à habitação e a residência principal: 69,4% dos alojamentos são destinados à primeira habitação, mais 1,3% em relação a 2011. Setenta por cento são ocupados pelo proprietário, percentagem que decresceu 3,2% face a 2011 e 5,7% comparativamente a 2001. O que se reflete nos arrendamentos, que representam 22,3% do total dos agregados domésticos e viram a sua importância reforçada em 2,4% na última década.

Os Censos 2021, que correspondem ao XVI Recenseamento Geral da População, indicam as causas da diminuição da dimensão da estrutura familiar, desde logo, por haver menos casamentos e mais divórcios. Acrescenta-se a baixa taxa de natalidade, como demonstram as últimas Estatísticas Vitais. Indicam que o número de nascimentos em Portugal entre janeiro a outubro deste ano foi de 65 596, menos 5965 bebés que em igual período de 2020, que já tinha registado menos 7207 em relação ao ano anterior. O saldo natural acumulado (diferença entre mortes e nascimentos) foi menos 37 596, uma queda maior que em 2020 (menos 27 597) e em 2019 (menos 20 062).

Em relação aos casamentos, há uma melhoria em 2021, o que tem a ver com as cerimónias adiadas durante o primeiro ano da pandemia. O país sofreu um confinamento total e, depois, os grandes eventos tiveram limitações severas em relação ao número de convidados. Entre janeiro a outubro deste ano foram celebrados 25 257 casamentos, mais 9079 do que no período homólogo de 2020. Mas, quando a comparação é com os mesmos dez meses de 2019, há menos 4434 uniões oficiais.

O aumento do número de cerimónias coincidiu com o abrandamento das restrições devido à covid-19, a partir de março. E continuaram a subir de mês para mês. "Em setembro e outubro de 2021, celebraram-se, respetivamente, 4465 e 3276 casamentos, o que corresponde a aumentos de 56,2% e 28,0% relativamente aos meses de setembro e outubro de 2020 (mais 1606 e mais 716 casamentos).

ceuneves@dn.pt

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