Portugal sem chama para marcar presença na Expo 2017

Dedicada à energia do futuro, exposição mundial abre hoje no Cazaquistão. É o terceiro evento consecutivo sem Portugal
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Astana é uma cidade longínqua. Dista para a capital portuguesa mais de 6 mil quilómetros. Mas o argumento da distância para justificar a ausência portuguesa não colhe: a última participação lusa numa expo ocorreu em Xangai, em 2010, e a cidade chinesa fica a mais de 10 mil quilómetros. Se em 2012 (Yeosu, Coreia do Sul) e em 2015 (Milão, Itália), com o país a viver em austeridade, as ausências foram justificadas pelo governo de Pedro Passos Coelho com os custos - a conta da participação em Xangai, por exemplo, foi de 10 milhões de euros -, desta feita o executivo de António Costa não revela os motivos pelos quais a bandeira portuguesa não está em Astana ao lado de dezenas de outras. O governo herdou uma decisão já tomada na anterior legislatura, mas não era irrevogável.

O executivo socialista confirmou a resolução anterior após a visita de uma delegação da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) à capital cazaque em janeiro. "A AICEP estudou todas as hipóteses de participação de Portugal", garantiu ao DN Pedro Reis, chefe de gabinete do secretário de Estado da Internacionalização. Como o tema da Expo 2017 é a energia do futuro, o Ministério dos Negócios Estrangeiros - organismo que recebe o convite do Comité Internacional de Exposições - contactou os operadores nacionais dos setores da energia, tradicionais e as renováveis. "Pretendia-se que as grandes empresas cofinanciassem, juntamente com o Estado português, a participação portuguesa, face ao know-how e competitividade que o nosso país já possui no setor das energias renováveis, aproveitando a oportunidade que a Expo representa de potenciação das trocas comerciais, do investimento e da internacionalização das empresas. Nenhuma das grandes empresas manifestou disponibilidade e interesse na participação", explicou o chefe de gabinete do secretário Jorge Costa Oliveira.

Não faltou quem fizesse força para que a decisão fosse outra. A começar pelo próprio Cazaquistão, que cedeu o espaço para o pavilhão a custo zero, baixando a estimativa de custos da presença de Portugal de cinco milhões de euros para 3,9 milhões. E já neste ano, Astana nomeou Nurzhan Abdymomunov como o primeiro encarregado de negócios em Portugal. A poucos meses do início da Expo, o diplomata manifestara publicamente a convicção de que o governo português daria o aval à representação na feira. Também a Câmara do Comércio Indústria e Investimento Portugal Cazaquistão, formalizada em janeiro, e tendo o antigo ministro Murteira Nabo como presidente, tentou chamar a atenção dos decisores sobre a importância de estar em Astana. Mas quer o cazaque quer a associação que tem como membros fundadores a Fundação AIP, as ordens dos Engenheiros e dos Arquitetos e a Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário não levaram a água ao moinho. "Seria uma oportunidade única se Portugal apresentasse as suas últimas tecnologias e experiência durante a exposição em Astana. No entanto, estamos sempre abertos à colaboração com Portugal e ansiosos para trabalhar juntos em potenciais projetos conjuntos no campo das energias renováveis", comentou o diplomata cazaque ao DN.

O economista André Magrinho, ressalvando que não teve acesso aos estudos que levaram à decisão governamental, sublinhou: "A energia é um setor onde Portugal tem desenvolvido competências reconhecidas internacionalmente. A presença numa Expo é um catalisador para o mundo dos negócios e é uma especialização que Portugal tem vindo a desenvolver. Faria sentido marcar presença. Se se perde muito ou pouco é difícil de saber."

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