Portugal registou dois suicídios por dia em 2011
O Relatório "Portugal Saúde Mental em Números" revela que em 2011 se suicidaram 951 pessoas, sendo entre os idosos com mais de 70 anos que se verifica maior incidência, com uma taxa de mortalidade (nesse ano) de 21,4 por 100 mil habitantes.
O documento recorda que a Organização Mundial da Saúde (OMS)/Europa "vem alertando para a possibilidade de, ao contrário do tradicional e por efeito da crise, se verificar aumento da taxa na meia-idade e em adultos jovens".
O relatório aponta ainda para um maior registo de casos de suicídio nas regiões do Alentejo e do Algarve, o que requer a intervenção de brigadas móveis em zonas de dispersão habitacional e menor densidade demográfica.
Outra recomendação é no sentido de prevenir o suicídio através da melhoria da capacitação diagnostica e terapêutica das perturbações depressivas, nomeadamente nos cuidados de saúde primários (CSP).
Aliás, os CSP têm um papel fundamental na área das doenças mentais, de acordo com o documento, que revela que a OMS e a União Europeia consideram que o modelo de intervenção baseado na articulação entre as equipas comunitárias multidisciplinares e os CSP é o mais económico e eficaz.
Ainda de acordo com o relatório da Direção-Geral da Saúde (DGS), o consumo de antidepressivos em Portugal é superior à média da União Europeia e geralmente este grupo de fármacos é utilizado para as perturbações depressivas e não para as perturbações ansiosas, como recomendam as boas práticas clínicas.
"O consumo de mais antidepressivos por perturbações depressivas [do que por perturbações ansiosas] é superior à média da UE (55% em Portugal e 51% na UE). Por outro lado, o consumo de antidepressivos por perturbações ansiosas é na ordem dos 47% (41% na UE)", indica o relatório, que destaca que "as boas práticas recomendam que, a ser necessária prescrição medicamentosa, aqueles fármacos sejam utilizados em ambas as patologias.
Dados de 2010 apontavam para um consumo de antidepressivos em Portugal, o dobro do da média da UE.
Aliás, os dados do primeiro estudo de prevalência de perturbações mentais (relativo a 2010 mas recentemente conhecido) colocam Portugal no lugar cimeiro entre os países europeus analisados, quanto à prevalência das doenças mentais (22,9%).
Entre as perturbações mentais responsáveis pela maior incapacidade para a atividade produtiva e psicossocial, as cinco principais são a depressão major (em lugar cimeiro), os problemas ligados ao álcool, as perturbações esquizofrénicas, as doenças bipolares e as demências.
O relatório destaca ainda o consumo de substâncias psicoativas como a canábis, afirmando que "gera preocupação, sobretudo em relação aos valores elevados verificados nos alunos do secundário, face à evidência científica atual do risco psicótico também associado à menoridade".
Segundo o estudo, as psicoses constituíram um dos principais motivos de internamento associado às perturbações mentais.
No entanto, com a criação de mais estruturas de reabilitação psicossocial, nomeadamente com o esperado desenvolvimento dos cuidados continuados de saúde mental, prevê-se a redução do número de episódios de internamento por perturbações psicóticas, considera.
O relatório deixa algumas recomendações, como a necessidade de detetar precocemente e acompanhar a depressão e demências, designadamente nas pessoas idosas, prevenir e reduzir a prevalência do consumo de substâncias psicoativas (quer lícitas como ilícitas), em particular nos jovens, e prevenir, detetar e acompanhar os comportamentos de risco nos vários grupos etários.