Portugal precisa
De cinco em cinco anos, as eleições presidenciais colocam os líderes partidários na peculiar situação de se tornarem, momentaneamente, comentadores políticos, na medida em que são impelidos a analisar uma noite eleitoral em que não concorreram. Concederam apoios, manifestaram preferências, mantêm estimas. Mas a eleição para a chefia do Estado está, constitucional e simbolicamente, separada da realidade partidária e parlamentar. No caso das presidenciais de 2021, em que o vencedor ultrapassa em larga escala o espectro partidário, a segunda classificada reunia o apoio institucional de partidos menores (o Livre e o Pan) e o terceiro classificado chefia um partido recém-criado, a posição dos dois maiores partidos tornou-se ainda mais distante dos resultados obtidos.
Há, no entanto, e especialmente para o PSD, leituras evidentes a fazer e que não devem ser ignoradas.
A vitória de Marcelo Rebelo de Sousa não foi somente o triunfo do candidato apoiado pelo partido que ajudou a fundar, mas também uma prova de que o centro democrático, do centro-direita ao centro-esquerda, se consegue identificar ideologicamente numa figura política única. Nas presidenciais, essa figura foi Marcelo. Nas próximas legislativas, convém perguntarmo-nos qual a personalidade, e qual o partido, que mais evidentemente representam esse espaço. A resposta parece-me clara: o PSD.
As presidenciais desta semana provaram a existência de um eleitorado que, mesmo perante a maior crise do século, confia no centro moderado para resolver os seus problemas e conduzir o país a bom porto. Provaram que é possível vir da direita e também falar para a esquerda. Que é isso que o país quer. Que é isso que o país precisa.
Foi o terreno ideológico do PSD, corporizado pelo Presidente reeleito, que representou um espaço político vencedor. Dir-me-ão que André Ventura também conquistou milhares de votos em círculos, tradicionalmente, próximos ao Partido Social Democrata. E não é mentira. Mas talvez seja oportuno dizer que era Marcelo, um Presidente de proximidade cooperante ao governo socialista, a concorrer contra Ventura. Não era o presidente do PSD, líder da oposição. Não era o programa do PSD, livre, solto, reformista, e como alternativa assumida ao PS.
Ou seja: quem melhor representar a transversalidade que Marcelo Rebelo de Sousa personifica não estará, até às próximas legislativas, impedido de lutar por se impor como alternativa ao governo de António Costa. Algo, obviamente, que Marcelo não se propôs fazer na sua reeleição. Essa é uma tarefa para o PSD, não para o Presidente da República. E há que não menosprezar essa tarefa.
Para merecer governar, há que entender os sinais.
Fazê-lo implica falar ao centro, mas não esquecer todos os que viram em André Ventura uma razão para ir às urnas. Fazê-lo implica compreender que a melhor arma para merecermos o voto dito descontente é não nos juntarmos à fila para devolver o insulto ou levantar a voz, nem tão-pouco funcionar como agência de comunicação. É reunir propostas credíveis e levá-las aos mais descrentes. É seduzir pela solução e não pelos facilitismos.
Observei, por isso, os sinais da noite eleitoral com interesse redobrado. Se não somos um partido que ignora derrotas, também não seremos um partido que desvaloriza vitórias. E foi o nosso espaço, o nosso candidato e, até, o nosso eleitorado que saiu vencedor das presidenciais deste ano.
Na sua frase mais frequentemente citada, Francisco Sá Carneiro afirmou que primeiro está o interesse do país, depois o interesse do partido e só depois o interesse pessoal. Para não desperdiçar a oportunidade que Marcelo abriu, e que o desaparecimento do Partido Socialista nas presidenciais provou, talvez devêssemos recordar Sá Carneiro e concluir que primeiro continua Portugal, a seguir prevalece o PSD, e só a seguir interessam os demais partidos. Não percamos muito tempo a falar sobre eles.
Deputado do grupo parlamentar do PSD
Conselheiro Nacional do PSD