Portugal ponderou comprar submarinos usados
O antigo ministro da Defesa António Vitorino declarou, esta quarta-feira numa audição da comissão parlamentar de inquérito à aquisição de material militar, ter mantido, entre 1995 e 1997, anos em que exerceu funções, a prioridade definida pelo anterior governo - liderado por Cacaco Silva - para a "modernização da capacidade submarina" de Portugal. Porém, Vitorino acrescentou ter mantido duas opções em aberto: a compra de equipamentos novos ou em segundo mão.
Para demonstrar a sua opção, António Vitorino afirmou ter dado autorização ao Estado Maior da Armada para este iniciar contactos com a Marinha do Reino Unido, que tinha em curso um programa de renovação dos seus submarinos, estando disponível para vender equipamentos já usados. "Havia um grupo de trabalho na Marinha que teve autorização para aprofundar as características e o estado dos navios do Reino Unido", declarou. Segundo Vitorino, a manutenção, "em paralelo, da possibilidade de adquirir submarinos novos e submarinos usados daria maior capacidade negocial ao Estado português, numa dinâmica que podia ser virtuosa".
O antigo comissário europeu, que ironizou sobre o facto de estar a depor "algo entre a história e a arqueologia" e referiu várias vezes não se lembrar de determinados dados, explicou que a hipótese de adquirir submarinos novos surgiu com a notícia de que os construtores franceses da classe albacora, então em atividade em Portugal, iriam descontinuá-la, abrindo a necessidade de uma renovação completa
"Em setembro de 1995, foi estabelecido o programa para os submarinos, através do despacho do ministro meu antecessor, Figueiredo Lopes, e do ministro da Indústria e da Energia, Mira amaral. Depois, foi da responsabilidade do Estado-Maior da Armada, com um grupo de trabalho que procedeu à execução da lei e surgiu a questão de usados ou novos", disse António Vitorino.
"Obviamente, concordei ser uma arma estratégica importante para garantir controlo de um espaço marítimo e económico tão vasto quanto o português", afirmou o ex-responsável pela tutela, sublinhando ter conservado a hipótese de comprar navios em primeira e em segunda mãos".
António Vitorino revelou ter sido abordado, bem como outros membros do governo socialista, por "representantes dos países em causa (Reino Unido, Alemanha e França), várias vezes, para aquilatar do interesse de Portugal em adquirir submarinos e demonstrando o seu interesse no assunto", mas esclareceu os deputados dos vários grupos parlamentares que nunca contratou para o seu ministério "consultores financeiros nem consultores jurídicos durante os dois anos de funções" ou teve "qualquer contacto com fornecedores ou fabricantes".
"Em 1998, o Governo de que eu já não fazia parte abriu concurso para submarinos novos ou usados, portanto as duas hipóteses mantiveram-se sempre em aberto. Não optei por uma ou por outra", reforçou.