Portugal pode ser "grande celeiro de soluções"
OGMA Quando chegou a Portugal em abril deste ano, para liderar a OGMA, em Alverca, o brasileiro Marco Túlio trazia na bagagem uma experiência de mais de 30 anos na Embraer ligado a todo o tipo de projetos de aviação, da militar à civil e à executiva. Mesmo assim, confessa ter ficado surpreendido com o trabalho dos engenheiros portugueses, da OGMA e do CEiiA (um centro de inovação e desenvolvimento), no avião de transporte militar Embraer KC 390, nomeadamente em parte significativa da fuselagem central do aparelho que servirá a Força Aérea brasileira e também deverá ser utilizado pelas forças portuguesas.
"Se nessa altura me perguntasse: é possível um país, um determinado grupo de pessoas, produzir um segmento estrutural, um elemento de um avião tão importante, pela primeira vez, cumprindo o prazo, cumprindo os requisitos de qualidade, e tendo sucesso, eu iria dizer: vai ser difícil", admite. Mas o que sucedeu, acrescenta, "foi exatamente o oposto". "A equipa entregou um resultado fantástico. Não foi um bom resultado. Foi um resultado excecional do ponto de vista da capacidade de projetar, testar, manufaturar e entregar no prazo, no custo e na qualidade exigida. É algo surpreendente, para dizer a verdade", considera.
Para o presidente da OGMA - entidade que no próximo ano assinala cem anos de existência - "não há motivo" para duvidar que esta experiência seja repetível e multiplicável no futuro próximo. "Portugal pode-se tornar um grande celeiro de profissionais e de soluções [para esta indústria]", considera. "Eu vejo uma França forte, uma Alemanha forte, um Reino Unido forte, e não há razão para que Portugal não seja mais uma das forças europeias de produção de segmentos de estrutura ou de soluções de engenharia no ramo aeroespacial."
E o principal motivo para esse otimismo é mesmo a matéria-prima existente no país: "A formação académica em Portugal é muito boa. E aí você retém o jovem, em vez de ir buscar emprego fora de Portugal, consegue reter."
O segredo, defende, é mesmo garantir que estes jovens entram no ramo da engenharia aeroespacial, porque uma vez lá dentro "é como se fosse uma cachaça, como se diz no Brasil: na altura em que você começa a trabalhar com um avião, ele atrai de tal forma que tem dificuldade em mudar de ramo de atividade. É apaixonante", considera. "Talvez pelos requisitos de certificação. É um produto que você vê voar e que tem de pousar bem. Os níveis tecnológicos, os requisitos, a paixão pelo avião acaba a atrair as pessoas. Eu, por exemplo, tenho muita dificuldade em pensar em trabalhar num outro segmento industrial ou noutro segmento de negócio", admite.
Com a OGMA a participar em vários concursos internacionais para a construção de componentes para a indústria e a sua atividade mais tradicional de manutenção, Marcos Túlio acredita que a trajetória da empresa é de crescimento, o que vai implicar mais contratações, não só ao nível da engenharia Aeronáutica mas também a mecânica, de planeamento, de produto, manufatura, a automação", todas áreas-chave na captura de novos contratos.
A OGMA emprega 47 engenheiros aeronáuticos e aeroespaciais mas também dá formação a outros níveis: em 2017 recebeu 279 desempregados, através de um protocolo com o IEFP, e nos últimos cinco anos concedeu 721 estágios escolares e 173 profissionais.