Portugal no Dia Mundial da Língua Árabe
No dia 18 de dezembro de cada ano, celebra-se o Dia Mundial da Língua Árabe. Neste momento, existem mais de 400 milhões de pessoas que falam esta língua e 1,5 mil milhões que a usam nos seus rituais religiosos, tornando-a a quinta língua mais falada no mundo. Um dos pilares da diversidade cultural da humanidade, o árabe é, de facto, uma das línguas mais faladas e utilizadas no mundo, visto que é falada diariamente por mais de 290 milhões de habitantes do globo.
Nas suas diversas formas e estilos, orais e escritos, clássicos e coloquiais, e nos seus vários tipos calígrafos e artes da prosa e de poesia, a língua árabe criou obras estéticas maravilhosas que têm vindo a cativar corações e mentes em muitos campos, como, por exemplo, a engenharia, poesia, filosofia e canto. A língua árabe permite ao seu falante entrar num mundo repleto de diversidade, em todas as suas formas e imagens, incluindo a diversidade de origens e crenças, sendo a história deste idioma rica em sinais reveladores dos múltiplos e estreitos laços que a ligam a um conjunto de outras línguas do mundo incluindo a língua portuguesa. Foi o idioma árabe um catalisador para a produção e disseminação do saber tendo contribuído para transferir o conhecimento científico e filosófico grego e romano para a Europa no Renascimento. Foi esta mesma língua que produziu ciência e conhecimento, quando Jeber (Jabir ibn Hayyan),Averróis (Ibn Rushd), Alhazém (Ibn Al-Haytham), Avicena (Ibn Sina), Al-Idrisi, Al-Kindi e Al-Farabi, e outros eram produtores do conhecimento em tempos em que a Europa ainda estava mergulhada na escuridão da Idade Média, para depois acordar, sair das trevas e avançar. Por outro lado, o idioma árabe proporcionou o diálogo intercultural ao longo das vias terrestres e marítimas da Rota da Seda, da costa da Índia ao Corno de Ãfrica.
Estou certo que Portugal, que tem profundas ligações históricas, culturais e económicas ao mundo árabe, que se encontra numa posição cada vez mais privilegiada junto de todos os povos árabes e islâmicos, sendo visto como um país claramente empenhado na promoção da convivência pacífica entre os povos e o diálogo intercultural e inter-religioso, evitando lógicas de oposição entre civilizações, e que aposta na criação de sociedades mais abertas, mais inclusivas e mais tolerantes, onde todos podem viver em paz e em segurança, saberá gerir este precioso legado que constrói pontes, num mundo cada vez mais globalizado, criando oportunidades únicas de cooperação, emprego, investimento etc. Continuo a considerar que faz imensa falta a Portugal, com todo este legado e com tamanha dimensão de relacionamento com o mundo árabe, não se ter pensado em criar uma licenciatura em estudos árabes em que não se ensina apenas o idioma, mas também literatura, história, filosofia e política entre muitas outras disciplinas.
Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa