Portugal gasta o dobro do que devia em remédios 'novos'
Um medicamento novo não é necessariamente o melhor para o doente, além de ser muito mais caro. No entanto, em Portugal, "70% a 75% dos gastos com remédios de 2008 foram com produtos que surgiram nos últimos cinco anos", uma percentagem que não devia passar de 20% a 30%, diz ao DN António Vaz Carneiro, director do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência, centro de investigação da Faculdade de Medicina de Lisboa que se baseia em provas científicas rigorosas.
O responsável, que é um dos autores de um manual com as normas de prescrição farmacológica racional, que é apresentado hoje, alerta para a dificuldades e falhas na prescrição de remédios aos doentes, entre as quais as ligadas à inovação, e apresenta soluções e respostas aos médicos (ver caixa).
A opção por remédios novos "existe há anos e pensamos que o seu peso é desmesurado em relação a muitos dos antigos, que têm quase os mesmos ganhos, um perfil de risco e segurança semelhante, mas são muito mais caros",.
O problema não acontece em áreas e doenças que antes não tinham respostas em termos de tratamento, como uma determinada doença rara. Vaz Carneiro sublinha que a opção por medicamentos novos acontece "sobretudo em áreas gerais e doenças mais prevalentes para as quais há resposta, como é o caso da hipertensão, artrite, diabetes ou depressão".
A maior parte das situações identificadas dizem respeito a prescrições de remédios novos sem que tragam grandes mais-valias. Mas há outros, para pessoas que tenham outras patologias, associadas àquela que está a ser tratada, e que são utilizados sem que os doentes a possuam.
Nos Estados Unidos, 66% dos remédios são genéricos ou medicamentos antigos, o que é o ideal. "As nossas percentagens deviam ser invertidas, para termos uma prescrição racional", refere. Os medicamentos genéricos valiam 622 milhões de euros em 2008, num mercado de 3300 milhões.