Portugal está mais pobre e desigual, diz Sampaio da Nóvoa
"Vamos ter um país com mais fraturas e vamos ter de retomar um caminho de investimento na educação, no conhecimento, na cultura e na ciência, que foi interrompido ao longo destes anos", afirmou o académico quando desafiado a observar o país antes e depois da "troika".
Para Sampaio da Nóvoa, antes da austeridade seguida nos últimos anos, Portugal tinha "muitas dificuldades" e falta de um pensamento estratégico, um plano de futuro, mas que "vinha a ser construído", sobretudo na área da escola, do conhecimento, da ciência e da cultura.
"Houve uma enorme redução das despesas. O PIB para a educação desceu a níveis de há 20 anos atrás", observou.
No memorando inicial da "troika", datado de maio de 2011, ficou estabelecido que a assistência financeira a Portugal passava por medidas de redução da despesa e reorganização dos serviços, incluindo extinções.
"Tal deverá resultar em poupanças anuais de, pelo menos, 500 milhões de euros", determinava-se no documento relativamente às medidas destinadas e reduzir despesa e a "melhorar" o funcionamento da administração central.
Para a área da educação, ficou inicialmente estabelecida uma poupança de 195 milhões de milhões, através da racionalização da rede escolar, "criando agrupamentos e diminuindo a necessidade de contratação de recursos humanos", um plano seguido, na sua essência, pelo governo, com constantes atualizações nos cortes, sob a contestação de sindicatos e encarregados de educação.
Sampaio da Nóvoa sublinhou que não será possível ao país ultrapassar a crise em que mergulhou sem perceber que é com investimento na educação, na ciência e na cultura que se renovam e modernizam as economias e as sociedades.
"Precisamos de olhar para o futuro e não de olhar para o passado, precisamos de uma escola de futuro e não de uma escola do antigamente, precisamos de uma escola que promova as aprendizagens, que esteja ligada à revolução digital que hoje está a acontecer no mundo", preconizou.
A escola de Sampaio da Nóvoa, é "uma escola da inteligência, da criação, da relação das redes", da comunicação.
"Precisamos de uma escola nova e não desse regresso ao passado que tem sido a marca deste Governo na Educação, como se a escola de antigamente fosse melhor do que a escola de hoje", constatou, acrescentando: "Essa ideia de que antigamente era melhor é uma ideia completamente falsa".
O especialista em Ciências da Educação defende uma escola de inclusão e diversidade, que a todos leve o conhecimento. "Se não percebermos isto, não conseguiremos essa mudança de fase, de ciclo histórico em Portugal. Não conseguiremos libertar-nos desta espécie de destino".