Portugal, Espanha e Chile. O tomate tem passaporte

Além do core business - tranformação de tomate fresco -, a Sugal detém ainda a fábrica da Guloso em Benavente, onde são feitos durante todo o ano os produtos desta marca própria que derivam da matéria-prima (concentrado de tomate).
Publicado a
Atualizado a

No mundo inteiro, apenas uma empresa se pode orgulhar de ter duas campanhas de transformação de tomate para concentrado no mesmo ano, uma no hemisfério norte e outra no hemisfério sul. E é portuguesa. Nascida e criada em pleno Ribatejo, terra por excelência do bom tomate, há seis décadas que a Sugal se dedica àquilo que sabe fazer melhor: ir ao campo buscar os melhores frutos para os transformar em concentrado de tomate que exporta para todo o mundo. A seu cargo tem 3% do mercado mundial.

E se nos primeiros 40 anos de atividade a empresa se manteve na Azambuja, com apenas uma fábrica a funcionar, em 2007 ganhou asas e voou. O "salto" inicial foi de apenas 15 km, com a compra de uma segunda unidade fabril, em Benavente, que permitiu aumentar a produção e trouxe consigo o fabrico e comercialização da marca Guloso, bem conhecida dos portugueses. Três anos depois, a Sugal deu início ao seu processo de internacionalização, primeiro para Espanha, com a compra de uma fábrica em Sevilha, e em 2012 atravessou o Atlântico para apostar num mercado a 13 000 km de distância: o Chile. Hoje são três países e cinco fábricas, que processam anualmente 1,8 mil milhões de toneladas de tomate fresco, com 90% da produção exportada.

"Quisemos diversificar o risco e ir à procura de outros mercados. O Chile era um namoro antigo e apareceu como uma oportunidade de ouro, com a possibilidade de sermos o único grupo no mundo que tem duas campanhas por ano, o que nos permite dar aos nossos clientes maiores garantias", explica Miguel Cruz, chief operating officer (COO) do Grupo Sugal, numa visita guiada pela fábrica de Benavente.

Nesta altura, e com a fábrica a laborar 24 horas por dia, sete dias por semana, chegam ali todos os dias cerca de 200 camiões carregados de tomate, a uma média de 300 toneladas por hora, 12 000 por dia entre a Azambuja e Benavente. No final da campanha, lá para outubro, a Sugal terá processado em Portugal qualquer coisa como 700 mil toneladas de tomate, a que se somam mais 300 mil toneladas em Espanha. "Neste momento já estamos a plantar as primeiras sementes no Chile. Isto faz que, do ponto de vista agrícola e industrial, nós não tenhamos nenhum mês vazio. Está sempre a acontecer algo na Sugal", explica Miguel Cruz.

No Chile, a empresa processa ainda outras 750 mil toneladas de tomate, entre janeiro e abril. E, mesmo apesar da distância, a aposta neste mercado da América Latina já está ganha ao fim de cinco anos de operação. "Do ponto de vista político, social e agrícola é um país muito avançado. O mercado funciona e tem acordos de livre comércio com 90% do PIB mundial. Por isso, podemos exportar sem pagar taxas."

Com uma faturação global que ronda os 280 milhões de euros (mais de 50% no estrangeiro, com Portugal responsável por 130 milhões), a Sugal investe anualmente 2,5 milhões nas fábricas do grupo, com as duas unidades em terras chilenas a absorverem, em 2016, um investimento extra de 20 milhões com vista ao aumento da capacidade produtiva. Tanto no Chile como no Ribatejo, os campos de tomate que abastecem as fábricas da Sugal são a perder de vista: 8000 hectares lá, e outros tantos na lezíria ribatejana. Somam-se ainda mais 3200 hectares na Andaluzia.

Em termos de custos operacionais, 60% dizem respeito ao rei e senhor por estas bandas: o tomate. "Temos feito um esforço de verticalização do processo. Do viveiro até ao produto final, para o consumidor, fazemos tudo, o que nos permite ter toda a cadeia controlada e gerida por nós." E, depois de ter crescido a uma média de 18% nos últimos 20 anos, a Sugal está agora numa "fase de consolidação, atenta a oportunidades que apareçam" e com muita vontade de "aumentar a internacionalização". "Não temos neste momento nenhum alvo concreto. Estamos atentos a vários mercados que, do ponto de vista agrícola e político, sejam amigos do investimento", garante. Uma coisa é certa: tem de ser uma boa região produtora de tomate.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt