Portugal emitiu mandado de captura contra agente russo

Sergey Pozdnyakov foi libertado pelas autoridades italianas poucos dias depois de ter sido detido em Roma
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O espião russo, alegado recrutador do agente do SIS Frederico Carvalhão Gil, é alvo de um mandado de captura internacional, emitido pelas autoridades portuguesas. Sergey Nicolaevich Pozdnyakov foi detido com o português em Roma, em maio de 2016, mas as autoridades italianas recusaram o pedido de Portugal para a sua extradição e libertaram-no. Está também acusado pelo Ministério Público e será julgado à revelia, no âmbito do mesmo processo de Carvalhão Gil.

Quando foi detido, Pozdnyakov apresentou à polícia italiana um passaporte que lhe dava imunidade diplomática, mas como não estava registado nessa condição naquele país, esteve detido ainda alguns dias. Nessa altura, era já conhecido por alguns serviços secretos europeus e pela própria Nato, como sendo um agente da SVR da Federação Russa.

Todo o modus operandi identificado pela investigação "Top Secret", conduzida pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e pela Unidade Nacional de Contraterrorismo (UNCT) da PJ resulta de procedimentos conhecidos no mundo da espionagem e, mais especificamente, das secretas russas. O ponto fraco de Carvalhão Gil começou pela sua situação económica, atravessando dificuldades desde 2008, agravada pela sua alegada desilusão e desmotivação com o seu serviço.

A sua ligação aos países de leste era conhecida, a começar pelo seu casamento com uma georgiana. Sendo um quadro antigo dos serviços (faria 30 anos este ano), tinha a confiança de colegas e superiores hierárquicos, a quem podia pedir, sem levantar suspeitas, o que precisasse, ao que se juntava a sua personalidade descontraída e aparentemente desinteressada, o que ajudava a passar incólume.

A agressividade da Rússia no mundo da intelligence é conhecida e alvo de atenção no ocidente.
Sergei Pozdnyakov estava especialmente treinado para recrutar e gerir fontes dentro de serviços de informações estrangeiros. O processo pode demorar meses ou até anos, começando por simples abordagens. Pode também ser uma iniciativa do próprio agente oferecer-se a um serviço estrangeiro. Na relação que, segundo a acusação, se estabeleceu entre Carvalhão Gil e a SVR, com dois encontros filmados já no âmbito da investigação, passou por todas as fases e foram utilizados todos os métodos da espionagem: nos códigos de contacto, na regularidade dos encontros, nas medidas de contra-vigilância que cada um assumia, na forma como as informações eram passadas, umas vezes em papel (como em Roma), outras em formato digital (Eslovénia), ou verbalmente.

Durante a investigação, os responsáveis dos serviços de informações portugueses, referiram que, nos últimos anos - ainda sem saber da alegada atividade ilícita de Carvalhão Gil - houve alturas em que havia operações ou recolha de informações relacionada com atividades da Rússia no nosso país, que não produziam o efeito esperado. Chegaram a suspeitar de fugas de informação, mas sem nunca chegar a Carvalhão Gil. Este foi até novembro de 2015 analista de contraterrorismo, tendo sido transferido para a análise de fontes abertas, quando começou a ser investigado. Está em prisão preventiva em casa, com pulseira eletrónica.

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