Porto: Uma horta encaixada entre os prédios das Antas e os palacetes da Avenida dos Combatentes

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Quando há mais de 50 anos deixou Miranda do Douro, a sua terra natal, trouxe para o Porto o hábito de mexer na terra, do cultivo da batata, da couve e das restantes culturas com que sempre lidou, desde criança. Hoje, com 70 anos, não deixa de tratar diariamente da sua horta, em pleno centro do Porto, rodeada de prédios e virada para uma das ruas mais movimentadas da cidade.

Quem passa pela Avenida dos Combatentes da Grande Guerra, na zona das Antas, depara com o socalco, sustentado por um muro de pedra e de onde espreitam as folhas de algumas couves. É a horta de Justiniano Antão, que se orgulha dos seus dois talhões de batata, das ervilhas e feijões, da alface e da couve que ali planta. Sempre olhou para o que cultiva como um complemento ao rendimento familiar. "Vim morar para o Porto com mais cinco irmãos. O meu pai era primeiro-cabo da GNR e ganhava por mês 500 escudos. Era pouco e o que a terra dava sempre era uma ajuda", recorda.

Os anos passaram e, actualmente, o objectivo de manter este pequeno quintal, que destoa de toda a envolvência urbana, continua a ser o mesmo. Justiniano vive sozinho com a mulher e os 230 euros que recebe de reforma, depois de uma vida inteira a conduzir um camião na distribuição de batata para consumo, "não chega para nada".

Os talhões cultivados fazem a inveja da vizinhança que mora em palacetes rodeados de jardins ou em apartamentos. "Por vezes batem-me à porta a pedir uma couvita para fazer um caldo verde", diz Justiniano Antão, e explica: "São produtos que, apesar de plantados aqui, têm um sabor diferente dos que são comprados no supermercado. Aqui a couve sabe mesmo a couve."

O único problema desta horta citadina é ser um alvo apetecível de marginais. Ali se escondem para consumir droga. Justiniano chama a polícia, que "encolhe sempre os ombros e os manda embora. O muro é que fica sempre danificado".

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