Porta dos Fundos aberta para o sofá

Os vídeos humorísticos do coletivo brasileiro Porta dos Fundos chegaram à televisão. Ferreira Fernandes andou a vê-los e escreve sobre o novo humor brasileiro.
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Rafinha Bastos, de 39 anos, é um dos pais da stand-up comedy brasileira. Em 2011, ele foi considerado pelo New York Times como a personalidade mais importante do Twitter. Nesse ano, ele fez uma piada grosseiríssima sobre a cantora Wanessa Camargo, que estava grávida. Filho do poder dizer tudo na internet ou da comédia solitária em pé e nos palcos, Rafinha sentiu o efeito do escândalo e viu-se afastado da cadeia televisiva Rede Bandeirantes. No ano passado, em março, Rafinha já estava perdoado e apresentava o programa Agora É Tarde, também na Bandeirantes. Uma noite, ele recebeu Júlia Rabello, atriz do Porta dos Fundos, um programa de vídeos humorísticos que só passam na internet.

Rabello, 32 anos, sentou-se e ouviu a pergunta de Rafinha: "O que é que você quer?" Poderia entender-se: talvez um copo de água? Mas os olhos dourados de Júlia Rabello pousaram no entrevistador e ela disse com voz pausada: "O que eu quero..." E ficou assim, um suspense, que pôs o estúdio às gargalhadas. Rafinha Bastos riu também, mas num despeito assumido. Ele costuma fazer sketches, de pura inveja, em que se deita no divã do psicanalista e conta os seus pesadelos com o Porta dos Fundos... No fim dos risos, o apresentador diz o que toda a gente já sabe: aquele "o que eu quero..." da sua convidada ali ao lado remete para um vídeo, o Sobre a Mesa, sucesso no YouTube. "Vamos ver um bocadinho?", convida Rafinha, apontando para pan- talha do televisor no estúdio.

Júlia Rabello, fazendo de Odete, dona de casa, está à mesa, jantando com o marido. Ele vem do trabalho e exige a sobremesa que ela não tem. Zangado, ele faz-se condescendente, ela que faça um pudim ou outra coisa: "Pode ser um sorvete... Que é que você quer?", pergunta ele. E ela, cabelo apanhado, olheiras fundas, boca tensa, dispara: "O que eu quero, Mário Alberto?" Suspense. E então ela diz o que quer, com todas as letras. E explica: "Eu não falei fazer amor. Eu não falei transar. Eu não falei nheco-nheco..." Ela falou mesmo aquilo que queria, com quem queria, com quantos queria, onde e como queria, num festival - pois estava-se numa televisão - de desesperados pi, pi, pi, por tantas palavras proibidas.

Veja aqui o vídeo Sobre a Mesa, da Porta dos Fundos:

[youtube:6EYmKAs7mzc]

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