A resposta à pergunta do título é, sem dúvida, uma das mais importantes do momento: por que razão a economia portuguesa não consegue iniciar um novo surto de desenvolvimento, que lhe permita elevar-se ao nível dos parceiros europeus?.A primeira resposta, a oficial das autoridades, é negar o problema, porque afinal Portugal está a crescer. De facto, na conferência de imprensa de apresentação do Orçamento, o senhor ministro das Finanças estava positivamente impante de orgulho com tal dinâmica, falando até de "19 trimestres consecutivos de crescimento" (omitindo que ele só é ministro há 11). Mas a afirmação mascara a realidade..É verdade que a economia portuguesa está em recuperação desde meados de 2013, mas trata-se do mais fraco impulso de sempre. A taxa média de crescimento anual desde o início da retoma (1,9%) e desde a posse deste governo (2,3%) está muito abaixo de qualquer expansão do nosso desenvolvimento sustentado nos últimos 50 anos. Sinal do mesmo problema é ainda que, tradicionalmente, a economia portuguesa crescia sempre mais do que a média da Europa nas expansões e também caía mais nas recessões (normal ao comparar uma média com uma das componentes). Desde o início do século, continua a cair mais, mas deixou de crescer mais. Basta ver que na Europa as taxas homólogas às acima citadas são de 2,1% e 2,2%, praticamente iguais..A conclusão tem de ser que a nossa economia está de facto a crescer há cinco anos, mas com um ritmo medíocre, que pouco mais é que a inércia após a enorme recessão anterior e o reboque da dinâmica externa. Isso não chega para lançar novo surto de verdadeiro desenvolvimento social e convergência com os países mais ricos..Está aqui a primeira e principal explicação para a falta de crescimento: a ausência de ambição de uma elite nacional, mais do que um governo, que se contenta com o alívio após terrível aperto, desde que seja possível reduzir alguns impostos e subir certos salários e pensões. Retomar o nível anterior à troika e fomentar o consumo substituíram, no imaginário nacional, o projecto de uma sociedade dinâmica e actualizada. Isso à custa de uma carga fiscal asfixiante sobre empresas e famílias, a maior de sempre, que só por si chega para justificar a modorra. Assim não há possibilidade de crescimento significativo..Hoje não existem programas ou investimentos empolgantes, para lá das miragens folclóricas da Web Summit, porque todos ainda nos lembramos do estrondoso fiasco das promessas anteriores. José Sócrates foi o último dos nossos governantes faraónicos, que conseguia popularidade anunciando gastos sumptuosos. Depois da derrocada de 2008, esses sonhos soam a oco. Sabemos bem como essas coisas são caras e pouco produtivas..Pior do que perder confiança na construção de infraestruturas como via para o progresso, é a ausência de alternativas. Os nossos líderes têm-se esquecido de traçar planos claros para a ascensão nacional. Depois de vendermos a banca ao estrangeiro, bem como boa parte das empresas marcantes e muito do imobiliário, sentimo-nos de novo como um país dependente, sem aspirações a fortunas. Soma a isso o esforço para pagar a monstruosa dívida, pública e privada, que impede ambições. Há uma década que desenvolvimento e prosperidade deixaram de figurar no desígnio nacional. Aumentar consumo, subir pensões e regalias laborais de alguns grupos são os grandes projectos do país. Por isso é que se verifica uma generalizada perda de interesse nos temas do capital e produtividade..Assim os planos governamentais limitam-se a garantir uns milhõezinhos em benesses e reversões de alguns cortes, isso chegando para satisfazer as populações. Juntando-lhe o cumprimento entusiástico das "imposições de Bruxelas", que ainda há pouco tempo eram infames e agora são motivos de orgulho. Isso basta para proclamar dever cumprido. Deixámos de pretender ser um "tigre europeu"..Porque é que um país não cresce? Esta pergunta é sempre fácil de responder. Difícil é saber como consegue um país crescer, porque isso exige esforço, inteligência, dedicação, cooperação e sacrifício. Mas não crescer, isso é simples. A razão da enorme quantidade de fiascos de progresso é sempre a mesma: a sociedade está a fazer outras coisas. Em algumas zonas é guerra civil, ódio tribal, culto do líder. Por cá, ultimamente, tem sido baixar o défice sem deixar de satisfazer as corporações influentes. Isso é o suprassumo da estratégia, que chega para fazer do actual governo um sucesso, aspirante à maioria absoluta. Que interessa que a dívida continue esmagadora, o capital e a poupança escasseiem, a baixa fertilidade e a má formação comprometam o futuro e a pobreza, desigualdade e os níveis de salários e produtividade continuem a envergonhar-nos? Nenhuma dessas questões ocupa as nossas elites, que andam entretidas em tricas de armas desaparecidas ou assinaturas falsas no horário do Parlamento. Basta ver a lista de temas da actualidade para notar que o país desistiu do desenvolvimento. Tem mais que fazer..Professor universitário
A resposta à pergunta do título é, sem dúvida, uma das mais importantes do momento: por que razão a economia portuguesa não consegue iniciar um novo surto de desenvolvimento, que lhe permita elevar-se ao nível dos parceiros europeus?.A primeira resposta, a oficial das autoridades, é negar o problema, porque afinal Portugal está a crescer. De facto, na conferência de imprensa de apresentação do Orçamento, o senhor ministro das Finanças estava positivamente impante de orgulho com tal dinâmica, falando até de "19 trimestres consecutivos de crescimento" (omitindo que ele só é ministro há 11). Mas a afirmação mascara a realidade..É verdade que a economia portuguesa está em recuperação desde meados de 2013, mas trata-se do mais fraco impulso de sempre. A taxa média de crescimento anual desde o início da retoma (1,9%) e desde a posse deste governo (2,3%) está muito abaixo de qualquer expansão do nosso desenvolvimento sustentado nos últimos 50 anos. Sinal do mesmo problema é ainda que, tradicionalmente, a economia portuguesa crescia sempre mais do que a média da Europa nas expansões e também caía mais nas recessões (normal ao comparar uma média com uma das componentes). Desde o início do século, continua a cair mais, mas deixou de crescer mais. Basta ver que na Europa as taxas homólogas às acima citadas são de 2,1% e 2,2%, praticamente iguais..A conclusão tem de ser que a nossa economia está de facto a crescer há cinco anos, mas com um ritmo medíocre, que pouco mais é que a inércia após a enorme recessão anterior e o reboque da dinâmica externa. Isso não chega para lançar novo surto de verdadeiro desenvolvimento social e convergência com os países mais ricos..Está aqui a primeira e principal explicação para a falta de crescimento: a ausência de ambição de uma elite nacional, mais do que um governo, que se contenta com o alívio após terrível aperto, desde que seja possível reduzir alguns impostos e subir certos salários e pensões. Retomar o nível anterior à troika e fomentar o consumo substituíram, no imaginário nacional, o projecto de uma sociedade dinâmica e actualizada. Isso à custa de uma carga fiscal asfixiante sobre empresas e famílias, a maior de sempre, que só por si chega para justificar a modorra. Assim não há possibilidade de crescimento significativo..Hoje não existem programas ou investimentos empolgantes, para lá das miragens folclóricas da Web Summit, porque todos ainda nos lembramos do estrondoso fiasco das promessas anteriores. José Sócrates foi o último dos nossos governantes faraónicos, que conseguia popularidade anunciando gastos sumptuosos. Depois da derrocada de 2008, esses sonhos soam a oco. Sabemos bem como essas coisas são caras e pouco produtivas..Pior do que perder confiança na construção de infraestruturas como via para o progresso, é a ausência de alternativas. Os nossos líderes têm-se esquecido de traçar planos claros para a ascensão nacional. Depois de vendermos a banca ao estrangeiro, bem como boa parte das empresas marcantes e muito do imobiliário, sentimo-nos de novo como um país dependente, sem aspirações a fortunas. Soma a isso o esforço para pagar a monstruosa dívida, pública e privada, que impede ambições. Há uma década que desenvolvimento e prosperidade deixaram de figurar no desígnio nacional. Aumentar consumo, subir pensões e regalias laborais de alguns grupos são os grandes projectos do país. Por isso é que se verifica uma generalizada perda de interesse nos temas do capital e produtividade..Assim os planos governamentais limitam-se a garantir uns milhõezinhos em benesses e reversões de alguns cortes, isso chegando para satisfazer as populações. Juntando-lhe o cumprimento entusiástico das "imposições de Bruxelas", que ainda há pouco tempo eram infames e agora são motivos de orgulho. Isso basta para proclamar dever cumprido. Deixámos de pretender ser um "tigre europeu"..Porque é que um país não cresce? Esta pergunta é sempre fácil de responder. Difícil é saber como consegue um país crescer, porque isso exige esforço, inteligência, dedicação, cooperação e sacrifício. Mas não crescer, isso é simples. A razão da enorme quantidade de fiascos de progresso é sempre a mesma: a sociedade está a fazer outras coisas. Em algumas zonas é guerra civil, ódio tribal, culto do líder. Por cá, ultimamente, tem sido baixar o défice sem deixar de satisfazer as corporações influentes. Isso é o suprassumo da estratégia, que chega para fazer do actual governo um sucesso, aspirante à maioria absoluta. Que interessa que a dívida continue esmagadora, o capital e a poupança escasseiem, a baixa fertilidade e a má formação comprometam o futuro e a pobreza, desigualdade e os níveis de salários e produtividade continuem a envergonhar-nos? Nenhuma dessas questões ocupa as nossas elites, que andam entretidas em tricas de armas desaparecidas ou assinaturas falsas no horário do Parlamento. Basta ver a lista de temas da actualidade para notar que o país desistiu do desenvolvimento. Tem mais que fazer..Professor universitário