Pornografia da má

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Noticia o Correio da Manhã que as mulheres (inclusive, supõe-se, as mulheres sozinhas) também já começam a subscrever o canal Venus. Só podemos lamentá-lo: homens e mulheres são diferentes e sempre olharam para o sexo de maneira diferente - e que cada vez mais mulheres recorram agora, como catalisadora erótica, à observação do sexo mais cru só pode ser sinal de que os velhos mistérios da relação homem/mulher se diluíram (por um lado) e de que há cada vez mais solidão (por outro).

De resto, a última coisa que o Venus é, e para usar as palavras da sua produtora, é um canal "para mentes audaciosas". Diz Verónica Diez que os filmes do Venus se centram sempre numa "história" e que essas histórias decorrem "em cenários fantásticos que incluem praias paradisíacas e mansões fabulosas". As praias são de facto paradisíacas e as mansões efectivamente fabulosas, embora sempre no sentido mais primário dos termos. Mas nunca há uma história. Há, quando muito, uma intriga - a história, como dizia Jack Horner, o realizador porno de Boogie Nights, nunca passa da velha fórmula de "to grab a man and a woman and put them to fuck".

Que milhares e milhares de anos de pornografia (e outros tantos de arte pornográfica) nos tenham trazido até aqui, ainda se percebe: a pornografia não é o único género de arte que se depauperou a tal ponto em que praticamente já só subsista na sua forma mais primitiva. Que haja gente a fazer dinheiro - cada vez mais dinheiro, ao que parece - com a disseminação do mau gosto naquele que era o último reduto da elegância e da delizadeza (as mulheres, sim, porque é que havemos de negá-lo?) é deplorável.

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