Por que continua a exploração de petróleo, gás e carvão na Europa

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Muitos pensam que não há, na Europa, produção de petróleo, gás ou carvão. Todavia, tal produção existe e é relevante. Extrai-se carvão na Polónia, na Alemanha, na Chéquia, na Grécia, na Espanha. Extrai-se gás e petróleo na Noruega, no Reino Unido, na Dinamarca, na Roménia, na Bulgária, nos Países Baixos, na Itália, na Espanha, na França. Nestes dois últimos, os parlamentos votaram a proibição de novas concessões de gás e petróleo, mas mantendo as existentes até 2040/2043. Apesar de existirem boas reservas no centro e leste europeu, a produção de petróleo e gás por compressão de xisto e outras rochas tem estado proibida por as autoridades europeias considerarem que produz sérios danos ambientais. Porém, não existe qualquer limitação na importação de gás ou petróleo produzidos com recurso a compressão de rochas, proveniente sobretudo dos EUA e do Canadá.

A guerra na Ucrânia fez muitos países europeus priorizar a segurança no acesso e abastecimento de gás, petróleo e seus derivados e aceitar um ritmo mais lento na transição energética. Em alguns casos, foram adiados os prazos de descomissionamento de centrais nucleares ou a carvão. Noutros casos, foi-se mesmo mais longe, invertendo proibições de exploração destas fontes de energia durante este período de transição energética. Projetos como o alemão-holandês de exploração de gás no Mar do Norte (a 19km a norte de Schiermonnikoog e Borkum), de exploração de gás na Eslováquia e na Bulgária foram reativados. E o governo em Itália propõe duplicar a produção de gás. Apesar de formalmente contra, a Comissão e o Parlamento Europeus acabaram por também contribuir indiretamente para esta inversão de rumo ao considerar a energia nuclear e o gás natural [transitoriamente] como fontes de energia verdes.

É impressionante o número de empresas europeias que exploram petróleo e gás, sobretudo noutras geografias: a BP, a Shell, a Total, a Eni, a Equinor, a OMV, a Repsol, a Galp e dezenas de outras mais. Sentindo a pressão da opinião pública europeia e de muitos dos seus acionistas, assumem-se hoje como "empresas de energia" globais, i.e., operando com fontes de energias fósseis e verdes. No entanto, não há uma inversão de rumo da maioria destas companhias, com investimento apenas em fontes verdes de energia e desinvestimento na exploração, refinação e comercialização de petróleo e gás. Pelo contrário, várias delas anunciaram já investimentos adicionais em petróleo e gás. Tal decorre do ritmo lento da transição energética, da diminuição da produção global de crude pela OPEP+ (-3,16 milhões b/d em 2022-2023) e do crescimento da procura (só em 2023 a procura adicional global de petróleo será de +1,84 milhões b/d). A indústria de petróleo e gás continuará a crescer [nas próximas décadas], a uma Taxa de Crescimento Anual Composta (CAGR) de 17.4% até 2030, de acordo com a Polaris.

Apesar da louvável vontade política na Europa para aumentar a produção de energias renováveis, o setor dos combustíveis, do gás e do carvão ainda pesa 69% no energy mix da UE. Pelo que, se as empresas petrolíferas, europeias e outras, não fizerem investimentos adicionais em petróleo e gás, ocorrerá uma rutura do fornecimento destes produtos ou um aumento significativo do preço dos combustíveis e do gás.

Consultor financeiro e business developer
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