Populistas de Salvini passam a ser o segundo partido com mais peso no Parlamento Europeu
As duas grandes famílias políticas europeias devem perder a maioria que há muito têm no Parlamento Europeu e os anti-europeístas italianos da Liga (que deixou cair o Norte do nome para se perder o cunho regional com que nasceu) podem muito bem passar a ser o segundo partido mais representado na Europa, logo atrás da poderosa CDU alemã. Estas são as principais conclusões das projeções apresentadas esta segunda-feira pelo Parlamento Europeu, as primeiras de uma série de estudos que sairão quinzenalmente até às eleições de final de maio. Mas se movimentos populistas como o de Matteo Salvini, mas também o 5 Estrelas (M5S, Itália) ou o Vox (Espanha) podem ter um peso expressivo na próxima assembleia, ainda são os europeístas que dominam a maior parte dos lugares.
A projeções, que se baseiam nas sondagens realizadas em cada Estado-membro, mostram que o Partido Popular Europeu (PPE) e os Socialistas e Democratas (S&D), juntos, podem ficar-se pelos 45% na próxima legislatura, uma descida de 9% em relação à composição atual do Parlamento Europeu. O PPE, que integra os portugueses PSD e CDS-PP, mantém-se como a maior família política europeia, com 26% das intenções de votos dos cidadãos europeus, perdendo, no entanto, 3% relativamente a 2014. Na prática, essa 'quebra' traduzir-se-ia na perda de 34 eurodeputados para um total de 183, uma redução ainda assim menor do que aquela que é projetada para os Socialistas e Democratas (S&D), grupo no qual se inclui o PS, que à sua conta pode eleger nove deputados e é um dos poucos partidos socialistas a poder ganhar as eleições nacionais. Em Portugal, as intenções de voto destacadas no documento do Parlamento Europeu - que têm por base a última sondagem da Aximage, publicada a 24 de janeiro no Jornal de Negócios, com uma amostra de 608 entrevistas - dão 38,5% ao PS, 23,4% ao PSD (seis mandatos) e 13,4% (três deputados) à CDU. A fechar o lote de partidos que conseguiriam eleger eurodeputados estão o CDS (9,9% das intenções de voto - 2 deputados) e o Bloco de Esquerda (7,5%, para um mandato).
Depois de elegerem 186 deputados nas anteriores eleições europeias e de somarem 25% dos votos, os socialistas europeus devem ficar-se pelos 135 assentos e 19% dos votos. Em crescendo está a Aliança dos Liberais e Democratas pela Europa (ALDE) que, segundo as projeções hoje divulgadas pelo PE, se poderá tornar na terceira força política na assembleia europeia, com 75 eurodeputados, mais sete do que atualmente, e 11% das intenções de voto, uma subida de 1,5%. O ALDE poderá superar assim o grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus, a terceira força política no PE atual, que deverá perder 24 assentos e 2,5%, e ficar com 51 eurodeputados e 7% dos votos.
A perder estão também os Verdes europeus, com menos sete eurodeputados e 0,5% das intenções de voto (45 deputados e 6%, respetivamente), e o Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica do Parlamento Europeu (GUE/NGL), que integra PCP e o Bloco de Esquerda, que deverá ter menos seis eurodeputados.
Mas é na categoria "Outros" que reside a grande incógnita das próximas eleições, com as projeções a atribuírem 58 lugares àqueles partidos que nem têm assento no atual PE, nem pertencem oficialmente a um grupo político. Na apresentação das projeções, que incluem dados de todos os 27 Estados-membros - o Reino Unido deverá sair da União Europeia em 29 de março -, o porta-voz do PE, Jaume Duch, revelou que, neste momento, as duas grandes incógnitas na futura distribuição de assentos da assembleia europeia são o partido do presidente francês, Emmanuel Macron, e o italiano Movimento 5 Estrelas. Macron ainda não anunciou que grupo o seu La Republique en Marche! (LREM) irá integrar, o mesmo acontecendo com o M5S, que manifestou a intenção de se desvincular do grupo da Europa das Liberdades e da Democracia Direta (EFDD).
O M5S deve mesmo ser um dos grandes vencedores das eleições em Itália, onde tem atualmente um quarto das intenções de voto, correspondentes a 22 eurodeputados. Melhor, só mesmo a Liga de Salvini, com as projeções a apontarem para um resultado acima dos 32%, que se traduzem em 27 deputados, apenas dois atrás, a nível continental, da CDU alemã. No total, os dois movimentos populistas italianos somam bem mais de metade (58%) do total das intenções de voto do seu país.
Em Espanha, o Vox, também no campo mais à direita, pode vir a ter mais um resultado expressivo, depois do sucesso nas regionais da Andaluzia: com um discurso marcadamente anti-imigração, o Vox pode vir a ser a quinta força mais votada nas europeias em Espanha, onde tem cerca de 10% das intenções de voto, que a concretizarem-se podem levar à eleição de seis deputados.
O novo Parlamento Europeu, que resultará das eleições que se realizam entre 23 e 26 de maio, terá 705 eurodeputados, menos 46 do que o atual, em resultado da saída do Reino Unido da União Europeia. Portugal elege 21 deputados. As projeções hoje divulgadas têm por base sondagens nacionais, "com critérios credíveis e indicadores de qualidade relativamente à amostra e metodologia", de cada um dos Estados-membros.