Populismo e Direito de Manifestação
A manifestação de sábado passado em Lisboa foi uma manifestação ampla e numerosa, de múltiplos setores sociais, jovens e maduros, moradores das periferias e citadinos lisboetas, operários e trabalhadores e intelectuais, múltiplos partidos da esquerda, do PS ao Parido Comunista, passando pelo Livre, pelos anarquistas, pela multiplicidade trotsquista, sindicalistas e membros de comissões de trabalhadores e até trabalhadores independentes e pequenos patrões. Brancos e negros portugueses ao lado de brancos e negros imigrantes, todos antirracistas, todos exigindo uma Vida Justa e o Direito à Habitação.
Dirigentes de vários partidos foram reconhecidos e saudados com afeto. Dirigentes de várias associações e coletivos, por vezes rivais, marcharam pacificamente lado a lado. O importante era marcar uma posição comum: o pacote habitação do Governo é insuficiente e são necessárias outras políticas para que o Direito à Habitação seja uma realidade. Medidas urgentes que a Habitação é uma urgência social.
Esta unidade para que tantos contribuíram com o seu esforço, distribuindo folhetos, colando cartazes, convocando pessoas e organizações, organizando o percurso, convidando oradores e artistas, contactando as autoridades, foi perturbada quando um pequeno grupo de populistas de extrema-direita procurou desvirtuar a manifestação com a sua presença abusiva e intrusiva. Os manifestantes mostraram claramente o seu desagrado e ouviram-se palavras de ordem como "Fascistas, racistas, não passarão". Apesar de se sentirem indesejados os populistas insistiam no falso direito de desvirtuar a manifestação alheia. A Polícia, e bem, não lho consentiu e retiraram-se dizendo que
só o faziam devido à insistência das autoridades. Imediatamente a manifestação pode prosseguir com entusiasmo.
O direito de manifestação é um direito básico da democracia. Salvaguardar o direito de manifestação passa por não permitir que desordeiros procurem desvirtuar a mensagem da manifestação. Este tipo de desordeiros são as "fake news" das manifestações, são os cucos parasitas que querem os louros por trabalho alheio, os académicos desonestos que plagiam a investigação dos colegas. Estes desordeiros querem parecer uma coisa quando são outra. Querem parecer solidários com os jovens sem casa quando defendem a especulação imobiliária. Querem ser populares quando são elitistas.
Como testemunha dos acontecimentos, posso assegurar que não houve qualquer violência, embora os manifestantes tenham feito sentir a sua indignação de forma veemente mas pacífica, e a única coerção foi a da Polícia que ordenou de forma musculada, armada e firme aos populistas que se retirassem. O que, depois de alguma resistência às autoridades e contrariados, acabaram por fizer.
Apesar desta tentativa, felizmente frustrada, de desvirtuar a manifestação, a mensagem dos organizadores passou bem clara e bem vincada. Costa deve, agora, escutar e agir. São precisas medidas enérgicas e com financiamento adequado para resolver esta crise social aguda.