Popular até entre os comunistas
De todas as crianças-prodígio do cinema, Shirley Temple terá sido a mais prodigiosamente popular. No seu auge, ainda não tinha 10 anos, foi número um da bilheteira americana entre 1935 e 1938. Recebia mais correio de fãs do que Greta Garbo, era mais fotografada do que o presidente Roosevelt e deram o seu nome a um cocktail não alcoólico. Ganhou um mini-Óscar honorário aos seis anos e tinha uma fortuna de milhões de dólares, gerida pela mãe, que detetou o talento precoce da filha e a matriculou numa escola de dança aos três anos. Os seus filmes, açucaradíssimos e edificantes, onde cantava, dançava e encantava toda a gente, ajudaram os EUA a atravessar a Grande Depressão, e envelheceram muito mal. Mas com os seus caracóis louros e as suas covinhas, Shirley Temple era uma atriz aplicada e uma cantora e dançarina consumada (ver a sequência de A Pequena Rebelde, de 1935, em que sapateia escada acima, escada abaixo com o lendário Bill "Bojangles" Robinson ). Em 1937, depois de Shirley, Soldado da Índia, de John Ford, Graham Greene escreveu que Temple devia ser uma adulta, uma anã talentosa a fingir que era uma criança. Indignação geral e chuva de processos sobre a revista onde saiu o artigo, que teve de fechar. Com a adolescência, veio o fim da linha, e Temple retirou-se do cinema aos 22 anos. Foi uma corajosa porta-voz contra o cancro da mama, que a afetou. E saiu-se honrosamente na sua segunda carreira, na diplomacia, entre os anos 60 e 90. Ao chegar a Praga, em 1989, como embaixadora dos EUA na Checoslováquia, os membros do Clube de Fãs de Shirley Temple que aí tinha existido, muitos deles membros da nomenclatura comunista, receberam-na em triunfo, pedindo-lhe para autografar os velhos cartões do clube, gritando "Shirleyka! Shirleyka!". Até atrás da Cortina de Ferro ela foi um prodígio de popularidade.