População mundial ganhou 10 anos de vida desde 1970
O estudo, intitulado "Peso Global das Doenças 2010", é descrito pela revista como o maior esforço de sistematização para descrever a distribuição global e as causas de uma variedade de doenças, lesões e fatores de risco para a saúde.
Recolhidos ao longo de cinco anos por 486 cientistas de 302 instituições em 50 países, os dados relativos a 187 países são agora publicados na primeira tripla edição da 'Lancet' totalmente dedicada a um só estudo, que inclui sete artigos científicos e diversos comentários, incluindo um da diretora-geral da Organização Mundial de Saúde, Margaret Chan.
Entre as conclusões, o estudo revela que a esperança de vida dos homens aumentou 11,1 anos entre 1970 e 2010, de 56,4 para 67,5. Nas mulheres, a esperança de vida aumentou ainda mais - 12,1 anos ou 19,8% - de 61,2 anos em 1970 para 73,3 anos em 2010.
No entanto, acrescenta o estudo, as diferenças entre os países com maiores e menores esperanças de vida mantiveram-se muito semelhantes desde 1970, mesmo quando se retiram eventos dramáticos como o genocídio do Ruanda em 1994.
Em 2010, as mulheres japonesas eram as que tinham maior esperança de vida (85,9 anos) enquanto para os homens a Islândia era o país com melhores resultados (80 anos). No extremo oposto, o Haiti tinha a mais baixa esperança de vida em ambos os géneros (32,5 nos homens e 43,6 nas mulheres), sobretudo devido ao sismo de janeiro de 2010.
Além disso, alguns países contrariaram a tendência e registaram quedas substanciais da esperança de vida. Na África Subsaariana como um todo, a esperança de vida nos homens diminuiu 1,3 anos entre 1970 e 2010, enquanto nas mulheres caiu 0,9 anos, declínios atribuídos à epidemia de VIH/Sida.
Por outro lado, o estudo revela que, à medida que a esperança de vida aumenta e o mundo vai envelhecendo, as doenças infecciosas e males infantis relacionados com a malnutrição - em tempos as principais causas de morte - vão sendo substituídos (com exceção da África Subsaariana) por doenças crónicas, lesões e doenças mentais.
"Essencialmente, o que nos faz doentes não é necessariamente o que nos mata. Enquanto o mundo fez um excelente trabalho a combater doenças fatais - especialmente doenças infecciosas - vivemos agora com mais problemas de saúde que causam muita dor, afetam a nossa mobilidade e nos impedem de ver, ouvir e pensar claramente", escreve a 'Lancet' no comunicado em que anuncia o estudo.
Outra conclusão do estudo é que, enquanto o peso da malnutrição foi reduzido em dois terços, a alimentação desequilibrada e a falta de exercício físico estão a contribuir para um aumento das taxas de obesidade e outros fatores de risco, como a hipertensão, representando já 10% do peso das doenças.
O estudo conclui também que, embora se registe uma enorme redução da taxa de mortalidade infantil - que caiu mais do que alguma vez se tinha estimado - há um aumento de 44% no número de mortos entre os 15 e os 49 anos entre 1970 e 2010, sobretudo devido ao aumento da violência e ao desafio do VIH/Sida, que matou 1,5 milhões pessoas por ano.
Resultado de um projeto liderado pelo Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME) na Universidade de Washington, este estudo é apresentado na sexta-feira na Royal Society em Londres e visa fornecer uma nova plataforma para avaliar os maiores desafios mundiais na área da saúde e formas de os abordar.