População luta contra a falta de água, alimentos e combustível
"Ontem já houve ligações aéreas e dentro da cidade a maioria das estradas já estão transitáveis", conta ao Plataforma o português Ricardo Martins, por telefone, a partir de Maputo para onde voou no domingo a partir da cidade da Beira onde se encontrava quando o ciclone Idai atingiu a segunda maior cidade moçambicana, deixando um rasto de destruição.
"O exército começou logo a limpar a zona centro da cidade. Só para se ter uma ideia, diria que pelo menos 80% das árvores foram arrancadas pelo vento. Muitos postes de eletricidade foram derrubados. Neste momento, acho que o problema mais grave é fazer chegar alimentos [à cidade da Beira]. Não há água e ter luz também vai ser complicado. Há geradores, mas logo na sexta-feira houve corrida ao combustível e não sei como estão as reservas nos postos de abastecimento", descreve o empresário, há 7 anos em Moçambique, onde tem uma empresa de formação marítima.
"Sei que se está a organizar o envio de ajuda por barco e com as ligações aéreas já restabelecidas também ajuda", adianta. Quanto às comunicações, esta segunda-feira a operadora Movitel já tinha a sua rede operacional. "Até ontem [domingo] só se conseguia fazer telefonemas via satélite."
Por via terrestre, a principal via de acesso à cidade, a Estrada Nacional 6, ainda está cortada em vários locais.
Sobre a comunidade portuguesa na Beira, Ricardo Martins explica que não há notícias de perda de vidas. No entanto, "alguns portugueses ficaram sem casa". O presidente moçambicano Filipe Nyusi visitou nesta segunda-feira, 18 de março, a cidade da Beira e estima que o número de mortes possa vir a ultrapassar os mil óbitos.
Aliás, revela o empresário, a destruição de casas só não foi maior porque "tudo o que era edifícios coloniais aguentou-se. O pior foi a construção mais recente. A maior parte voou".
Sobre a noite de quinta-feira para sexta-feira, quando o ciclone Idai passou pela Beira, Ricardo Martins recorda as horas mais preocupantes. "Pelas 19.00 senti o aumento da força do vento e pelas 21.00 foi o primeiro pico do ciclone. Pela meia-noite acalmou e, quando pensávamos que o pior já teria passado, pela 01.30, 02.00 voltou outra vez a subir de intensidade. A partir das 02.00 foi o caos. Fiz vela e, pela minha experiência, os ventos devem ter atingido os 200/210 quilómetros por hora. Tudo abanou."
Os números iniciais do governo moçambicano estimam que 600 mil pessoas tenham sido afetadas, 260 mil são crianças.
Com a extensão total do impacto do ciclone ainda por apurar, é provável a existência de danos nas escolas e nos serviços de saúde, destruição de infraestruturas de água e saneamento, impedindo o acesso a água potável para as comunidades afetadas. "Aumentando, por isso, o risco de doenças transmitidas pela água", sublinha a agência ONU News.
"Com milhares de pessoas obrigadas a deixar as suas casas inundadas, muitas famílias carecem de alimentos, água e saneamento", salienta a agência ONU News.
Marina Marques é jornalista da Plataforma