PONTOS ESSENCIAIS Papa: João Paulo II foi recordista das visitas a Fátima
Em 1982, João Paulo agradeceu a "Nossa Senhora" ter sobrevivido a um atentado, um ano antes, na Praça de São Pedro em Roma, e saiu ileso a mais uma tentativa de agressão.
1967
13 de maio
Primeira visita de um papa a Fátima.
Paulo VI visitou a Cova da Iria nos 50 anos dos acontecimentos de Fátima.
O papa aterrou na base aérea de Monte Real, num "Caravelle", ou "Caravela", da TAP, que foi o avião pontifício ou papal.
Esta foi uma visita pastoral e não oficial e aconteceu num período de tensão nas relações entre Portugal e o Vaticano.
O chefe do Governo, António de Oliveira Salazar, não gostara que Paulo VI tivesse visitado a Índia em 1964, três anos após a invasão de Goa, Damão e Diu pelo estado indiano, considerando-a um "insulto à nação portuguesa".
Chegado a Fátima, porém, a situação estava mais distendida e o papa refere-se a "Portugal de aquém e além-mar". Uma frase com um significado importante para o regime salazarista, dado que a guerra colonial começara em 1961, em Angola.
O DN titula, a 14 de maio de 1967: "Uma explosão do sobrenatural!", com o antetítulo "Fátima foi uma ponte de passagem para o céu".
Na edição do dia anterior, a 13 de maio, o jornal dirigido por Augusto de Castro descreve, em linguagem deveras expressiva, o que se viveu na Cova da Iria.
"Cinquenta anos depois o milagre repetiu-se. Uma chuva de luz e de pétalas de flores desceu sobre os caminhos que vão dar à Cova da Iria, com o seu pezinho assente sobre o ramo da azinheira, a Mãe de Deus volta a falar, não já aos três pastorinhos, mas a milhão e meio de peregrinos, entre os quais já se encontra, em espírito, a branca imagem do Papa", lê-se no jornal.
É também o DN que cita o papa, na despedida de Fátima, a dizer: "Nunca na nossa vida assistimos a tão grandiosa e espontânea manifestação de piedade." A mensagem também foi de paz num país que estava em guerra, em África. "Homens, não penseis em projetos de destruição e de morte, de revolução e de violência", pediu Paulo VI.
O papa reuniu-se também com Lúcia, uma das testemunhas dos acontecimentos de 1917.
Sintoma da frieza das relações entre os dois Estados, o encontro entre o papa, Salazar e outros membros do Governo é cordial. O ministro Franco Nogueira descreve, diplomaticamente, a conversa como "natural e descontraída" e sem "uma palavra que recorde atritos ou dificuldades passadas".
1982
12 a 15 de maio
Primeira visita de João Paulo II
Foi de 12 a 15 de maio de 1982 e foi marcada pelo agradecimento à "proteção maternal" de "Nossa Senhora", que lhe "conservou a vida" no atentado do ano anterior, na Praça de São Pedro, em Roma.
O papa polaco, Karol Wojtyla, esteve na Cova da Iria para "agradecer à Divina Providência neste lugar que a mãe de Deus parece ter escolhido de modo tão particular". O papa justificou a sua recuperação por ação de "Nossa Senhora de Fátima".
Simbolicamente, a bala retirada do abdómen de João Paulo II, disparada por Ali Agca, foi oferecida pelo papa ao santuário e encastrada na coroa de diamantes da imagem que figura na imagem que está Capelinha das Aparições.
"Venho hoje aqui porque exatamente neste mesmo dia do mês, no ano passado, se dava, na Praça de São Pedro, em Roma, o atentado à vida do papa, que misteriosamente coincidia com o aniversário da primeira aparição em Fátima, a 13 de maio de 1917", disse o papa, que reconheceu nesta coincidência "um chamamento especial" para estar em Fátima.
Nesta visita, registou-se uma nova tentativa de atentado. Desta vez, pelo padre Juan Khron, antigo discípulo espanhol do arcebispo ultraconservador francês Marcel Lefébvre, que atentou contra João Paulo II, acusando-o de trair a Igreja. Mais uma vez, escapou ileso.
O DN descreveu o ambiente em torno da visita de João Paulo II que, além de Fátima, também o levou a Coimbra, Porto e Vila Viçosa, com honras de Estado, recebido pelo então Presidente da República, Ramalho Eanes, no Palácio de Belém.
Em Fátima, ainda num mundo dividido pela Guerra Fria, entre os Estados Unidos e a União Soviética, o papa pediu "à Senhora" que livre o Mundo "da fome, da guerra, da guerra nuclear" e, aos fiéis, fez um apelo "à penitência e à conversão".
Nas ruas, segundo o DN, "uma multidão apoteótica seguiu-lhe cada passo" durante toda a visita. Em Vila Viçosa falou aos agricultores e em Lisboa celebrou uma missa, com milhares de pessoas, no Parque Eduardo VII.
1991
10 a 13 de maio
João Paulo II regressa
Nove anos depois está de volta a Fátima, para a segunda visita a Portugal. Além da Cova da Iria, esteve em Lisboa, Açores e Madeira. Com uma mensagem eminentemente religiosa.
Mário Soares, o Presidente da República, chamou a atenção do papa para a situação em Timor-Leste, então ainda a viver sob ocupação militar indonésia, desde 1975. E lembrou que o povo timorense é "vítima de grave violação das normas de direito internacional".
Na viagem de avião para os Açores, e rompendo o seu silêncio sobre Timor, anotado pelo Público e DN, o papa confessou que "todos os dias" reza pelos timorenses.
Mais uma vez, é recebido por milhares de pessoas. E com entusiasmo popular.
Os ecos da visita na imprensa foram grandes. "Papa leva Portugal no coração", titulava o Correio da Manhã. O Público escolheu o título "João Paulo II apela à Europa Cristã" e o DN "Soares despede-se do papa e recorda drama de Timor". "Fervor", escrevia, em letras garrafais, "A Capital".
E numa altura de mudanças na Europa de Leste e "perestroika" na União Soviética, o papa manifestou o desejo de construir "um mundo com rosto humano, uma sociedade fundada sobre o respeito de Deus e do próximo".
De gestos simbólicos, some-se mais um: no dia em que João Paulo II chegava a Portugal, os jornais Público e Expresso e a rádio TSF noticiaram que as FP-25 de Abril entregaram material de guerra, para reivindicar uma amnistia ampla.
2000
12 e 13 de maio
A última visita de Karol Wojtyla
É a terceira e derradeira visita de João Paulo II no seu pontifício. Estava doente e prestes a fazer 80 anos.
Nove anos depois, o papa está de regresso e foi grande a especulação sobre se iria ser revelado o terceiro segredo de Fátima, numa visita em que -- isso era confirmado - Jacinta e Francisco foram beatificados. Lúcia sorriu, quando foi aclamada pela multidão.
Terceiro segredo de Fátima ou terceira parte do segredo de Fátima acabou por ofuscar a beatificação e foi anunciado pelo Cardeal Sodano, secretário de Estado do Vaticano, que antecipou a interpretação dada à "mensagem de Nossa Senhora".
Nas palavras proferidas pelo cardeal Sodano, a proteção dada ao papa "parece ter a ver também com a chamada terceira parte do segredo de Fátima", referindo claramente o atentado sofrido por João Paulo II a 13 de maio de 1981 e "a mão materna" que permitiu que o papa agonizante se detivesse no limiar da morte.
Segundo o cardeal, foi uma visão profética aquela que as três crianças terão tido, a 13 de julho de 1917: um bispo de branco que reza por todos os crentes, caminhando, com dificuldade, para uma cruz rodeada de cadáveres. O bispo, de branco, cai depois por terra, sob tiros de uma arma de fogo.
2010
11 a 14 de maio
Foi a primeira e única visita de Bento XVI a Fátima. O papa rezou uma missa na Praça do Comércio, em Lisboa, que juntou cerca de 500 mil pessoas, antes de rumar a Fátima.
O cardeal Joseph Ratzinger presidiu também à celebração de uma missa no Porto, na Praça da Liberdade.
Logo no voo de Roma para Lisboa, Bento XVI tinha a mensagem preparada e era para o interior da Igreja: "a maior perseguição à Igreja" não vem de "inimigos de fora, mas nasce do pecado da Igreja".
Comentando os escândalos de pedofilia que têm afetado a imagem da hierarquia católica, o papa disse: "A Igreja tem uma profunda necessidade de reaprender a penitência, aceitar a purificação e implorar perdão", disse, referindo-se também à "necessidade de justiça" neste processo.
Os jornais destacaram essa frase e algumas interpretações em torno desse tema.
O Diário de Notícias (DN) escreveu na manchete que o "Papa associa pedofilia ao 3.º segredo de Fátima" e o Jornal de Notícias (JN) destaca a frase de Bento XVI "Forças adversas não destruirão a Igreja". O Público optou por outro ângulo ao escrever "Papa pede aos católicos mais empenho na política e na economia".
Já o Correio da Manhã (CM) assinalou uma "Multidão no Terreiro do Papa" e o 24horas contava "Como a família Cavaco recebeu o papa".