Pontos altos da economia indiana

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Os países ou as empresas ao pensarem no seu rápido crescimento, devem focar-se no que sabem fazer bem, continuando a investigar e a avançar ainda mais. Isso dará vantagens ao lançar produtos de vanguarda. Há a tentação de melhorar o que se faz menos bem. Havendo recursos, pode investir-se em ambos.

No caso da Índia, depois da independência, em especial depois de adotar o modelo económico de livre iniciativa, em 1991, houve como descoberta e exploração de verdadeiras "jazidas de riqueza" que permitiram acelerar o desenvolvimento.

Em seis tópicos vou referir os pontos altos da economia, como eu os vejo, com algumas notas sobre a sua evolução continuada ou um surto recente.

1. Agricultura e alimentos: de país de fome a exportar milhões de toneladas

A Índia tentou aumentar a produção de alimentos, pois os colonizadores nada se importaram com a fome e as mortes. Muito dependente das monções, a produção tinha oscilações, havendo que importar quantidades elevadas para alimentar a população. O máximo de importações deu-se em 1969, de 9 milhões de toneladas de cereais. As medidas em progresso, da Revolução Verde, para tornar a Índia autossuficiente, começaram a dar resultado ao aumentar substancialmente a área irrigada e a distribuição ampla de sementes de alta produtividade. A partir de 1970 não houve mais importações de vulto. A Índia é o primeiro ou o segundo produtor da maioria de cereais, de produtos hortícolas, de variada fruta, do açúcar, do algodão, etc.

No ano 2020-21, a produção total de cereais foi de 308,7 milhões de toneladas, suficiente para alimentar toda a sua população, manter um bom stock de segurança, podendo ainda vender mais de 20 milhões de toneladas.

Na produção do leite, a Índia foi, a partir de 1997, o maior produtor, com 198,4 MT em 2019-20. Foi de grande importância a Federação das Cooperativas de leite que detém a marca AMUL, cujo modelo foi replicado em diferentes estados e por cooperativas que entretanto foram nascendo.

A pesca (do mar, rio e aquacultura) vem crescendo bem: a produção aumentou de 752 mil toneladas, em 1950-51, para 12,590 milhões de toneladas, em 2018-19.

A exportação de produtos agrícolas e afins, em 2020-21, cresceu 17,34 % sobre o ano anterior, chegando aos $41,25 bn.

2. A indústria farmacêutica

Num país arrasado pela colonização, havia necessidade de providenciar remédios acessíveis a todos e daí o imperativo de produzir a baixos custos e em quantidade, com o efeito de escala a acompanhar.

As capacidades desenvolvidas e a longa experiência fizeram da Índia uma presença crescente na indústria farmacêutica global. É o maior fornecedor de genéricos, com 20% do mercado mundial, em volume; fornece 62% da procura global de vacinas. Em remédios, é o terceiro produtor mundial em volume e 14.º em valor (os custos de produção e os preços de venda são baixos). As exportações foram de $24,44 bn, em 2020-21, com 70% de genéricos.

A Índia tem o maior número de laboratórios farmacêuticos "aprovados" pela US-FDA, fora dos EUA, com 3 mil empresas farmacêuticas, com uma rede de 10 500 instalações de produção. Ela oferece 60 mil marcas de genéricos em 60 categorias terapêuticas. A sua indústria de API-Active Pharmaceutical Ingredients é a terceira maior do mundo.

3. Joalharia, têxtil e vestuário: a tradição da Índia

Até ao século XVIII, a Índia era o único país que produzia diamantes e usava-os para fins industriais (corte, perfuração, etc.). A partir da descoberta do diamante no Brasil em 1726, e a colonização britânica da Índia, outros países e capitalistas ganharam controlo. Hoje a Índia está a reconquistar a sua posição cimeira, sobretudo na lapidação e polimento de diamantes, e em toda a indústria de joalharia. Mais de 90% dos diamantes são lapidados e polidos na Índia, com grande concentração em Surat, que abriga mais de 800 mil técnicos de pedras preciosas.

Em julho de 2021, o setor (joalharia e pedras preciosas) empregava mais de 4,64 milhões e o valor total da exportação, em 2020-21, foi de US$ 26.02 bn.

Os têxteis e vestuário indiano foram sempre muito apreciados no Ocidente que importava artigos de algodão, seda e joalharia da Índia. A colonização arrasou e paralisou toda a indústria local para poder vender os seus artigos feitos na Inglaterra com o algodão levado da Índia.

A indústria têxtil e do vestuário podem vir a ter volumes de fabricação que deem para uma ampla exportação. Trabalham no setor 45 milhões. O mercado interno de têxteis e vestuário está nos $100 bn (FY2019).

4. TIC - Tecnologias de Informação e Comunicação e I&D - Investigação e Desenvolvimento: pilares da exportação

É aqui que a Índia tem vindo a brilhar, com altas exportações de TI e TIES de $150 bn, em 2020-21. O setor conta com mais de 4,6 milhões de especialistas.

Nas Telecom, têm hoje mais de 1180 milhões de linhas de rede móvel ativas, cerca de 750 milhões de utilizadores de internet e 600 milhões de smartphones que aumentam em 25 milhões por trimestre. O efeito de escala conta muito e, por isso, o custo de aquisição do sistema e de comunicação é o mais baixo do mundo! Trabalham nas Telecom à volta de 4 milhões de técnicos.

A abundância de pessoas formadas para a I&D faz que as multinacionais estabeleçam os seus GCC - Global Captive Centres de I&D na Índia. São atualmente 1750 GCC e espera-se que mais 500 se estabeleçam até ao ano 2025. Isso tudo pela disponibilidade de cientistas a um custo que é uma fração do custo nos EUA ou na UE. As GCC ocuparão 1,8 a 2,0 milhões de cientistas em 2025, e as suas exportações irão passar dos atuais $35,9bn para $58- $81 bn, de acordo com o Relatório da NASSCOM/Zinov.

5. Turismo: grandezas do passado e sabedoria

A infraestrutura turística está muito aceitável e a melhorar. Índia tem muito bons hotéis, com boa densidade nos pontos de maior atração. Há boa ligação de mobilidade para todos eles e documentação alusiva aos monumentos e a história do local, miniaturas, recordações, etc.

A Índia exerce forte atração tanto sobre os ocidentais como orientais, pelo brilhante passado, no plano intelectual, científico, médico, universitário, da arte e arquitetura. As primeiras universidades do mundo surgiram na Índia, do século V a.C. até ao século XII d.C. Muitas das grandes descobertas tinham sido feitas na Índia, cerca de cinco séculos, ou mais, antes do Ocidente.

A Índia tem 38 locais considerados Património da Humanidade pela UNESCO. O mais visitado é o Taj Mahal, em Agra.

Em 2018, o turismo ocupava 42,7 milhões de pessoas e valia $220 bn. Espera-se que alcance $430 bn, em 2028.

6. Distribuição a retalho, e-commerce: geradores de trabalho

Houve uma boa expansão da distribuição a retalho, em esquemas modernos. De acordo com a IBEF, o mercado de retalho que era de $672 bn em 2017 está previsto crescer para $1,1trn em 2021. Estima-se que o total de lojas de distribuição no país, de mais de 12 milhões, na grande maioria pequenas lojas familiares, agora a serem digitalizadas, poderá levar a que a Índia seja a terceira maior economia de consumo, em 2025 (segundo BCG).

A Índia é o mercado do maior crescimento do e-commerce, com robustos investimentos no setor e uma alta utilização da internet. As vendas online passaram de $32 bn em 2018, aos $50 bn em 2020 e alcançarão os $188 bn, em 2025.

A indústria do retalho e logística, no setor organizado e informal emprega mais de 40 milhões.

A modernização da distribuição a retalho vem-se fazendo depressa. Muitas das empresas de e-commerce procuram digitalizar as pequenas lojas de bairro para que possam ser o elo final na cadeia de entrega, partilhando a plataforma eletrónica.

Professor da AESE Business School (Portugal); autor do livro The Rise of India.

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