Ponte em Juromenha? Sim, mas....
É muito difícil a qualquer autarca do interior lutar contra o abandono e a decadência que não parecem cessar de atormentar as povoações que se situam longe dos centros de decisão nacionais.
No caso do Alandroal, a situação mostra-se particularmente grave. Na verdade, entre a ribeira de Alconchel (ou de Táliga, como se queira) e o limite do Concelho de Elvas, passando por Juromenha, na margem do Guadiana, o insólito acontece: não há fronteira internacional reconhecida pelo Estado Português, por causa da velha questão de Olivença. Essa é uma das razões por que vários projetos locais transfronteiriços de recuperação das muralhas de Juromenha fora, rejeitados. Portugal não pode aceitar, na região, qualquer projeto que faça subentender que aceita a legalidade da administração espanhola em terras de Olivença.
Há uma relação com a posse das águas do Alqueva. Na verdade, em 1968, um acordo luso-espanhol colocava todas as águas da futura barragem sob administração portuguesa («El aprovechamiento hidráulico de las siguientes zonas de los tramos internacionales de los restantes ríos mencionados en el artículo primero será distribuído entre España y Portugal de la forma siguiente:[...] E) Se reserva a Portugal la utilización de todo el tramo del rio Guadiana entre los puntos de confluencia de éste con los ríos Caya y Cuncos, incluyendo los correspondientes desniveles de los afluentes en el tramo.»), até para além da zona em disputa, até à ribeira de Cuncos. Como se compreende, qualquer reconhecimento, por Lisboa, da existência duma fronteira legal na região levará Madrid a poder questionar a posse das águas do Alqueva.
Entretanto, direta ou indiretamente, as autoridades espanholas, locais ou nacionais, tudo têm feito para levar autoridades portuguesas a aceitar a fronteira do Guadiana diante de Olivença, servindo-se nomeadamente de ofertas generosas de colaboração local, a um nível transfronteiriço, o que Lisboa, obviamente, rejeita.
Uma exceção se abriu entre 1994 e 2003, através da atribuladíssima construção na nova Ponte da Ajuda, entre Elvas e Olivença, somente por Portugal e concluída em 11 de novembro de 2000. Sucederam-se episódios dignos de um romance, mas, a partir de 2003, os ânimos acalmaram-se.
A Questão de Olivença, não sendo grave no contexto das relações ibéricas, mantém-se viva, Por isso, na constituição da Eurocidade Elvas-Camp Maior-Badajoz, Olivença nem foi convidada... Como reconhecia, pragmaticamente e sem muitos comentários, um "alcalde" espanhol em 2018.
Mas subsiste umaquestão: como podem os habitantes do Concelho do Alandroal e as autoridades municipais por eles escolhidas saírem da situação de menoridade em termos de desenvolvimento perante tais limitações?
O município, neste início de setembro, avançou com algumas ideias, que são quase um grito de socorro: construir uma Ponte entre Cheles e Montes Juntos sobre o Guadiana, e outra entre Juromenha e Vila Real(e, por extensão, a Olivença) sobre o mesmo rio.
Na verdade, salvo em função de fundos disponíveis, nada há a opor a uma ponte internacional entre Cheles e Montes Juntos, já que não há reivindicações de soberania sobre estas regiões.
O problema coloca-se na outra ponte. Na verdade, Vila Real, por ironia parte do Concelho de Juromenha até 1801, não é tida como legalmente espanhola por Lisboa. Uma Ponte na região terá de se basear no precedente aberto pela nova Ponte da Ajuda, e seguir processo idêntico. Haverá coragem? Vontade de superar as dificuldades previsíveis? A ver vamos.
De uma outra solução, que não invalida as precedentes, podendo complementá-las, não se lembrou o município do Alandroal: a restauração da ligação no troço mais estreito do Guadiana, entre Mocissos (Alandroal) e Estacada (Olivença/ São Bento da Contenda). Restauração porque, até 1801, mais de uma vez foi erguida por ali uma ponte de madeira. Claro, coloca-se sempre a questão da discussão da soberania... mas talvez seja possível a Portugal invocar razões históricas e culturais, no sentido de reatar antigos laços entre as populações. Resta, uma vez mais, saber se há vontade.
Finalmente, não se esqueça que, no mínimo, se pode ligar Juromenha à nova Ponte da Ajuda, na margem direita e em território dos municípios do Alandral e Elvas, distantes mais ou menos sete quilómetros, mas que um estranho capricho, por não existir essa ligação, transforma em quase trinta quilómetros (Juromenha-Elvas e Elvas-Ponte da Ajuda. Num mapa, verifica-se que as duas estradas são quase paralelas, e muitas vezes parecem tocar-se!
O que se deseja é que se encontrem soluções que, sem porem em causa princípios fundamentais nem levarem a cedências de imprevisíveis consequências, permitam ao Alandroal sair do seu dramático isolamento. E, já agora, beneficiem também a outra margem.
Com inteligència e ponderação, algo se encontrará!
Professor de História