Ponha um presépio neste Natal

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Às portas deste Natal de 2017 observo com tristeza como em grande parte das casas, locais públicos, lojas e nos centros comerciais portugueses se está a perder, ano após ano, uma das tradições mais típicas e belas do Sul da Europa, a de pôr um presépio, num lugar destacado da sala ou noutro lugar escolhido da casa, das lojas, largos e shoppings, nos primeiros dias de dezembro, a coincidir com o Advento. Infelizmente o presépio é substituído em inúmeras ocasiões pela árvore de Natal, com origem incerta mas muito fácil de encontrar e comprar em qualquer loja. Para uns nasceu na Alemanha no século VII, para outros na Noruega. Até há quem diga que remonta à cultura celta. Seja qual for a origem do abeto de Natal, parece evidente que, nestes dias, quase todas as casas lusas têm uma árvore, natural ou artificial, cheia de bolas coloridas, luzes brilhantes e umas meias e um boneco do Pai Natal a presidir as decorações natalícias.

Se olharmos para o país ao lado, em Espanha conseguiu-se manter em perfeito equilíbrio nas decorações de Natal, apesar das fortes pressões comerciais e publicitárias de origem anglo-saxónica, a tradição do presépio, que para os espanhóis é o Belén, com a da árvore de Natal. Assim acontece nas lojas, centros comerciais, locais públicos e nas casas de norte a sul do país. Se analisarmos a sua origem, em Itália, na Idade Média, tem muito mais lógica manter a tradição dos presépios em Portugal e lutar por preservar alguns dos presépios mais belos da Europa, de finais do século XVII e do XVIII, que se encontram e podem visitar na cidade de Lisboa. Mas vamos por partes. O presépio, "pesebre", nasceu na noite da consoada do ano de 1223, numa cova próxima à pequena igreja de Greccio, Itália. Foi São Francisco de Assis quem teve a ideia de reproduzir a tradição cristã do nascimento de Cristo, com figuras de madeira, nesse lugar. Diz a tradição que a experiência correu tão bem que, ano após ano, se continuou a pôr o presépio no Natal e o hábito chegou às casas mais abastadas e a outras igrejas de Itália, ultrapassando fronteiras rapidamente. A nova moda não demorou a chegar a França, Espanha e Portugal.

Tesouros escondidos em Lisboa

Na terra de Camões, concretamente em Lisboa, encontramos, ainda hoje, autênticos tesouros escondidos no interior de igrejas e museus, em forma de presépios com grande valor artístico, desconhecidos da grande maioria dos lisboetas e também dos numerosos turistas que cada vez mais visitam a capital portuguesa. Se há uma época ideal para os visitar é agora, no Natal. De visita obrigatória é o presépio da Sé de Lisboa e o da Basílica da Estrela, elaborados em madeira policromada, com delicadíssimas figuras que seguem a tradição dos presépios italianos da época mas adaptados ao gosto português, esculpidas pelo grande mestre luso Machado de Castro (século XVIII). E que dizer dos presépios da Madeira, conhecidos como lapinhas, uma autêntica maravilha para a vista e uma tradição que se deve manter? O mesmo acontece com os mais recentes, de Penela e de Alenquer, nos quais participa toda a vila, e que bem merecem uma visita para conhecer a autêntica tradição do Natal luso.

Um passatempo em família

Se há uma tradição vigente na minha família é a de fazer todos juntos, na altura do Advento, as decorações natalícias, entre as quais nunca falta a árvore de Natal e o presépio. No nosso caso, do que mais gostam as crianças é de compor e organizar elas próprias o presépio, porque cada ano é um bocado maior e diferente, porque acrescentamos figuras. Um ano compramos um pastor, outro uma ovelha, outro uma casa, mudamos o musgo e os meus filhos elaboram uma estrela de Natal. O problema com que nos deparamos todos os anos é que em Lisboa é difícil encontrar lojas que vendam as figuras do presépio, por isso quase sempre as compramos do outro lado da fronteira. São os pequenos da casa os encarregados de irem aproximando os Reis Magos do Oriente do abrigo onde estão Maria, José e o menino Jesus. Cada dia avançam mais um pouco até que, a 5 de janeiro, ficam todos juntos... mas isso é uma outra tradição da que falaremos noutro momento.

Correspondente da rádio Cadena Cope e do jornal La Voz de Galicia

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