Política francesa: um chega, outros vão. Uns voltam, outros mudam

De desconhecido a mais jovem presidente de França, no domingo Macron toma posse. Nesse dia, Hollande deixa o Eliseu após cinco anos de impopularidade.
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Quem sai também, mas da política, é Marion Le Pen, a sobrinha de Marine que muitos veem como futura líder da Frente Nacional. Já Benoît Hamon cria um movimento, mas sem sair do PS

A chegada do ambicioso Macron ao Eliseu

Quase desconhecido até chegar ao governo em 2014, em três anos Emmanuel Macron teve uma ascensão fulgurante que o levou até ao Eliseu. Incompatibilizado com um executivo socialista que não apoiava as suas propostas mais ao centro, Macron começou por fundar o seu próprio movimento, En Marche!, antes de, em agosto de 2016, sair do governo. A candidatura presidencial, há muito falada, confirmou-se, com o ex-ministro a garantir não ser "nem de esquerda nem de direita" mas a juntar "o melhor da esquerda e da direita". A fórmula resultou: depois de derrotar Marine Le Pen no dia 7, toma posse no domingo. Aos 39 anos, o mais jovem presidente de sempre em França tem já pela frente nova batalha: garantir uma maioria de governo nas legislativas de junho

O pós-Eliseu de Hollande e os adeus de Marion e Fillon

Uns entram, outros saem. Macron chega ao Eliseu, François Hollande despede-se. Após cinco anos no poder, deixa o cargo como o presidente mais impopular da V República (chegou a ter aprovação de 4%). No seu mandato, França sofreu atentados que desde novembro de 2015 fizeram 239 mortos, o desemprego anda nos 9,7%, o défice teima em não baixar e a dívida pública subiu. À procura de casa no seu feudo da Corrèze, ele garante que não sabe o que vai fazer a seguir. Para já receberá a pensão de 15 mil euros por mês. Baixa esperada foi a de François Fillon. Favorito à presidência, o candidato d"Os Republi-canos (LR, sigla em francês) nem passou à segunda volta, castigado pelo caso dos empregos fictícios da mulher e dos filhos. Agora anunciou que deixa a política para voltar a ser "um militante como os outros". Mais surpreendente é que Marion Maréchal-Le Pen vá fazer o mesmo. A neta do fundador da Frente Nacional e sobrinha da atual líder, alegou motivos "pessoais e políticos" para deixar a política. Depois do divórcio e com uma filha de três anos, a deputada e conselheira regional, de 27 anos, garante que os tempos não estão para "políticos desligados da realidade". Vista por muitos como a sucessora natural da tia, Marion diz assim mais um até já do que um adeus à política, preparando-se para um eventual regresso triunfal caso a renovação que esta agora prepara falhe.

Mudanças para Marine, Hamon e Valls

O anúncio da saída de Marion só veio acrescentar à tensão na Frente Nacional depois da derrota de Marine. Como líder política esta diz "lamentar" a decisão da sobrinha. mas garantiu compreender "como mãe". Já o pai, Jean-Marie Le Pen, classificou de "deserção" a saída da sua querida neta. Logo no discurso da derrota, Marine prometeu uma renovação da FN para tornar o partido mais aceitável a todos os que se reveem na sua mensagem mas ainda desconfiam da conotação que traz. Essa renovação pode passar pela mudança de nome, um cenário que Le Pen pai nem quer imaginar. Entretanto surgiram algumas vozes críticas na formação, apesar dos 10,6 milhões de votos em Marine. Críticos que gostariam de ver a líder deixar o lugar, mas que preferem para já guardar o anonimato. A prova de fogo são as legislativas. Se Marine conseguir passar de dois deputados para os 15 a 20 que as sondagens preveem, deverá manter-se incontestada mais uns tempos. Se falhar, pode ser a oportunidade de Marion. Decidido a mudar está Benoît Hamon. O candidato da esquerda às presidenciais, que na primeira volta se ficou pelo quinto lugar, com 6,3% dos votos, disse na France Inter que quer "reconstruir uma esquerda criativa que ultrapasse as etiquetas". Uma ambição que se vai materializar em julho com o lançamento de um movimento político, onde quer prosseguir as suas ideias sobre "o ambiente, o rendimento universal". Mas sem deixar o Partido Socialista. Quem também tentou mudar foi Manuel Valls. O ex-primeiro-ministro que Hamon bateu nas primárias da esquerda anunciou na terça-feira que seria candidato às legislativas pela maioria presidencial. Mas com a candidatura rejeitada pelo République en Marche! (o novo nome do En Marche!, rebatizado após as presidenciais e já sem Macron na presidência) e com o PS a convocá-lo para avaliar a sua expulsão, o mínimo que se pode dizer é que a sua posição é delicada.

Sarkozy e Juppé à espreita de uma nova oportunidade

Com Os Republicanos sem líder natural nem presidente designado depois do desaire de Fillon, esta pode ser a oportunidade para Nicolas Sarkozy sair da sua reforma e voltar à ribalta. Derrotado por Hollande em 2012, derrotado nas primárias da direita em novembro, o ex-presidente já terá convocado os barões LR para preparar um eventual regresso para evitar uma crise no partido. Mas no seu caminho pode atravessar-se Alain Juppé. O ex-primeiro-ministro, também derrotado nas primárias, tem sido das vozes mais fortes de uma aproximação a Macron. Uma linha a que Sarkozy se opõe ferozmente.

Mélenchon tenta impor-se como força de oposição

Quarto nas presidenciais, mas a pisar os calcanhares a Fillon com quase 20% dos votos, Jean-Luc Mélenchon não quer perder essa dinâmica vitoriosa e impor-se como força de oposição. Enquanto negoceia uma aliança com os comunistas e estende a mão a Hamon "se ele deixar o PS", o líder da Frente Insubmissa deve avançar com a candidatura às legislativas em Marselha, onde teve quase 25% dos votos a 23 de abril.

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