Polícias denunciam pressões dos comandos

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Os comandos da PSP pressionaram e ameaçaram com processos disciplinares os agentes que pretendiam entregar as armas em sinal de protesto pelas condições de trabalho e em homenagem ao agente Ireneu Dinis, morto na quinta-feira no Bairro Cova da Moura (Amadora), denunciaram as maiores associações sindicais da polícia.

O DN soube também que cinco das principais entidades representativas dos polícias encontram-se dia 23 para "analisar" e "tomar posição sobre o estado degradante a que chegaram as forças de segurança".

Reunião que surge no momento em que a morte de Ireneu Dinis - que vai hoje a enterrar em Soeira (Vinhais) - voltou a mediatizar as queixas dos agentes sobre a alegada falta de condições para exercer suas funções.

A insatisfação fez com que inúmeros elementos da PSP, após apelo da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia - ASPP/PSP, entregassem as armas de serviço. O que levou vários comandos a avisar que iriam ser instaurados processos disciplinares a quem cumprisse esse apelo.

"Ameaça" que terá sido levada a sério, pois segundo disse ao DN António Ramos, do Sindicato dos Profissionais de Polícia (SPP), diversos sócios do sindicato pediram ontem apoio jurídico para rebater esse procedimento.

Alberto Torres, presidente da ASPP/PSP, também confirmou essa actuação dos responsáveis da polícia, principalmente nos comandos de Lisboa e Porto, mas acrescentou "Presumo que não passem de ameaças." Em reacção, a Direcção Nacional da PSP apelou ontem ao "bom senso e profissionalismo".

A revolta expressa pelos agentes nestes dois dias é o sinal, segundo José Manageiro, porta-voz da Comissão Coordenadora Permanente dos Sindicatos e Associações das Forças de Segurança - que engloba a Associação dos Profissionais da Guarda (APG), a ASPP/PSP, o Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional, o Sindicato da Carreira de Investigação do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e a Associação Sócio-Profissional da Polícia Marítima -, de que está na hora de discutir questões como a "organização, formação, meios, equipamentos e a degradação dos incentivos" relacionados com a actuação dos agentes.

O aumento da violência que, segundo afirma o também presidente da APG, foi registado em 2004 é já o resultado "das carências de meios e da desmotivação dos agentes". "Isto reflecte-se não só nos profissionais das forças de segurança, mas também nos cidadãos", disse.

Para este representante da Coordenadora as queixas ouvidas nas últimas 48 horas são o resultado de "uma política de desprezo pela administração interna nos últimos anos". "Atrasos nas promoções, a remodelação dos subsídios e dos incentivos aprovada, mas não regulamentada", são alguns dos exemplos que José Manageiro apresenta.

A actuação das associações foi criticada pelo ministro da Administração Interna, Daniel Sanches, que considera estar a ser efectuada "uma exploração política incrível" da morte do agente Ireneu Dinis. Frisando não querer "entrar discussão com os sindicatos", o governante prometeu outras declarações para segunda-feira.

investigações. No terreno continuam as investigações da Polícia Judiciária, com a colaboração da PSP, para detectar os elementos que dispararam contra Ireneu Dinis e Nuno Saramago, na madrugada de quinta-feira.

Ainda sem uma explicação para o sucedido continuam em equação duas teses uma emboscada motivada por retaliação a uma operação policial na quarta-feira no Bairro Estrela de África ou indivíduos que podem ser alvo de mandado de busca e que se terão assustado com a presença do veículo.

Alheados das investigações vários agentes da PSP regressaram ontem ao bairro. De cabeça baixa, em silêncio, com os olhos ainda vermelhos e um olhar vazio e revoltado associaram-se à marcha contra a violência (ver texto ao lado). No local onde o agente Dinis foi mortalmente baleado deixaram uma rosa branca.

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