Polícia Marítima inquire sobrevivente do naufrágio

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Vasil Gurin, o ucraniano que foi o único sobrevivente do naufrágio da Luz do Sameiro, a norte da Nazaré, faz hoje uma semana, era ontem procurado pela Polícia Marítima para prestar declarações.

O sobrevivente da tragédia que tirou a vida a seis pescadores das Caxinas, Vila do Conde, deveria ter participado num debate organizado pela rádio Onda Viva, na Póvoa de Varzim, onde era esperado por dois agentes daquela força policial, mas acabou por não comparecer. O DN acabou por encontrá-lo na sua residência, visivelmente abatido. O homem estava já acompanhado pelos referidos elementos da Polícia Marítima, mas ninguém esteve disponível para prestar declarações.

O DN contactou o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras para perceber se estes procedimentos poderiam estar relacionados com uma eventual permanência ilegal, mas uma fonte do organismo disse que "não houve diligências no terreno".

Apesar de todos já terem ouvido falar de Vasil, são muitos os que não o conhecem pessoalmente - resultado, também, do facto de as Caxinas serem a maior comunidade piscatória do País -, mas não há quem não tenha um sem número de histórias sobre a vida e perigos no mar. "Se fosse a fazer uma história do pessoal aqui das Caxinas dava um livro de mil e tal páginas", diz Gaspar Gonçalves Terroso, 60 anos, reformado da faina há dois. Tal como muitos outros Caxineiros, abalou para o mar quando tinha apenas 14 anos, dando início a uma vida sem garantias e muitos sacrifícios: "Temos fainas que, por vezes, se prolongam por 24 horas e, na maioria das vezes, não se ganha nada, porque não temos ordenado e ganhamos à percentagem sobre o que é pescado."

Gaspar conhecia alguns elementos da "Luz do Sameiro", que compara à tragédia do "Salgueirinha". A embarcação naufragou há dois anos e vitimou igual número de pescadores, entre eles um cunhado, "que era como um irmão", e cinco amigos.

"Isto aqui há muita história", reforça João Marques, 62 anos, um de muitos pescadores que, após a reforma, não querem ouvir falar do mar. O "bichinho" que sentiram na juventude - porque é a vida que conhecem e o ganha-pão de amigos e familiares, quase sem nenhuma excepção -, desvaneceu-se em quase todos aqueles com quem o DN falou.

"Nem pense nisso", diz um pescador quando se lhe pede para que conte experiências da faina. "A gente não gosta de falar, há muita mágoa, tantos dias sem ganhar um tostão, não ter ordenado fixo, uma reforma que é uma desgraça..." Conhecia os que morreram sexta-feira: "Mexe muito connosco", diz, antes de baixar o olhar para esconder a comoção. Longe do mar há poucos meses, garante: "Eu, para mim nunca mais, para mim acabou."

João Marques não põe sequer os pés na água. "Desde que deixei de trabalhar, não vou à água. Chega de sustos. E há muita gente assim. Olho o mar e não me diz nada."

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