Poder local, uma resposta de proximidade
Vivemos há mais de um ano num contexto que poucos imaginariam possível. Um contexto tão inesperado quanto dramático, que de um momento para o outro alterou por completo as nossas rotinas e a nossa organização enquanto comunidade. As autarquias locais, tal como cidadãos, escolas, empresas e tantas outras organizações, enfrentaram um cenário complexo e exigente, ao qual tiveram de se adaptar rapidamente.
A história de Sesimbra durante esta pandemia é, certamente, o exemplo de tantos outros municípios por todo o país. Somos um concelho com um enquadramento geográfico privilegiado, uma costa ocidental que se prolonga desde a lagoa de Albufeira até ao cabo Espichel, passando pelos areais do Meco e uma vertente virada a sul, enquadrada pela serra da Arrábida, com cenários de grande beleza. É um território com uma forte vocação turística e com um tecido empresarial muito ligado a esta área de atividade.
Os últimos anos foram muito positivos para a economia local. O trabalho desenvolvido pela autarquia e por muitos parceiros na promoção do destino e na afirmação da "marca" Sesimbra permitiu o crescimento de um turismo de qualidade, de base sustentável, e a captação de grandes investimentos. Nas pescas, mantivemo-nos como o principal porto do país. Com este cenário, entrámos em 2020 convictos de que seria um grande ano. No entanto, em março, tudo mudou. Praticamente a totalidade das empresas ligadas ao turismo pararam por completo. Muitos dos investimentos foram suspensos ou adiados. As obras em curso mantiveram-se, embora a um ritmo intermitente.
Perante este cenário, a Câmara Municipal teve de se reorganizar para manter serviços essenciais à população, como abastecimento de água, saneamento ou recolha de lixo, acorrer aos mais desfavorecidos, apoiar o tecido económico, informar e sensibilizar os cidadãos ou auxiliar as autoridades de saúde, extravasando muitas das vezes as suas competências, no âmbito da Comissão Municipal de Proteção Civil.
Os trabalhadores da autarquia, que tantas vezes são referidos de forma depreciativa, foram de uma entrega e de um profissionalismo exemplares. Tanto aqueles que estiveram na linha da frente numa altura de grande incerteza e receio, como os ligados aos serviços, que, nunca tendo exercido funções em teletrabalho, em poucos dias conseguiram reinventar-se e voltar a ligar-se aos cidadãos.
Chegados ao verão, organizámos, em conjunto com empresários locais, uma grande campanha de retoma, que envolveu figuras públicas, importante para a continuidade de muitos negócios e de centenas de postos de trabalho. Este apoio repetiu-se no Natal, direcionado ao comércio local e, mais recentemente, como incentivo aos negócios em take away.
No início de 2021, esperava-nos outro desafio crucial: a instalação dos centros de vacinação. Instalámos um primeiro centro, que está a funcionar, e mais tarde tomámos a iniciativa de instalar um segundo, que aguarda indicações das autoridades de saúde para entrar em atividade. A par de todo este trabalho, extremamente exigente tanto em termos logísticos como financeiros para o município, conseguimos prosseguir obras previstas em várias áreas, desde a educação à cultura, passando pela saúde, rede viária ou o bem-estar animal. Foram meses bastante intensos e difíceis, que permitiram reforçar e afirmar laços com a comunidade, confirmar a importância de um trabalho de proximidade e com respostas adequadas, e demonstrar, mais uma vez, que o poder local é imprescindível para a emancipação dos territórios, para a sua valorização e para a satisfação das necessidades das populações. E é por isso, que numa altura em que estamos a assinalar os 47 anos do 25 de Abril, devemos lembrar o poder local democrático como uma das suas grandes conquistas.
Presidente da Câmara de Sesimbra