Moby Dick. 25 horas a ler em inglês (e quatro em português)
"Call me Ishmael". Hoje ao meio dia em New Bedford (mais cinco horas em Portugal Continental) arranca a leitura integral de Moby Dick em inglês. "Podem chamar-me Ismael". Às três da tarde começa a ouvir-se a história em português. À Maratona Moby Dick, o grande acontecimento cultural que há 20 anos faz fervilhar fãs de Melville no Museu da Baleia daquela cidade costeira do Massachusetts, EUA (onde se passa parte da narrativa), junta-se a leitura em português de uma versão reduzida da história.
"A nossa minimaratona decorre em simultâneo com a maratona original, em salas diferentes. Quando a nossa começar às três da tarde a outra já começou, quando a nossa acabar às sete a outra tem muito caminho pela frente", diz ao DN Pedro Carneiro, o cônsul de Portugal em New Bedford. Vai ser ele o Ismael na versão portuguesa. Ou seja, vai começar a leitura da versão reduzida da epopeia, feita a partir de uma adaptação do original por Tiago Patrício e Pedro Alves, do Teatromosca. Ontem ensaiou o arranque para o DN:
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"Temos 50 leitores. Cada participante lerá um trecho de aproximadamente cinco minutos na galeria do baleeiro açoriano. É a primeira vez que vamos ter a leitura integral aqui no Museu da Baleia de New Bedford feita por várias pessoas: luso-americanos, portugueses, americanos. Alguns vão trazer os seus filhos, há famílias inteiras", descreve Pedro Carneiro.
[Sim, na leitura em português vai participar um casal americano, Jack e Wandra Harmsen. "Viveram alguns anos em Portugal, ele trabalhou na embaixada norte americana e aprendeu a língua portuguesa. Regressou aos EUA mas como gosta muito da língua portuguesa, quis participar em português", diz o cônsul].
A ideia de integrar uma leitura em português no mega evento surgiu em outubro, quando o Teatromosca apresentou a peça Moby Dick no museu. Tiago Patrício e Pedro Alves adaptaram o livro a uma versão de três horas e 45 minutos. Depois, Consulado e Museu, Instituto Camões, departamentos de estudos portugueses de universidades americanas (Brown University, UMass Darthmouth, Bristol Community College e Bridgewater State University), Arte Institute, Azorean Maritime Heritage Society , escolas, a rádio local (WJFD) e luso descendentes uniram esforços para erguer esta mini epopeia.
Uma cidade com fortes ligações à tradição baleeira portuguesa (e a Moby Dick) e um consulado com mais de 45 mil portugueses inscritos e um universo de "mais de 150 mil lusodescendentes" na região ajudam a explicar esta força da língua de Camões numa zona com os pés no outro extremo do Atlântico.