Europa pode estar a caminho de uma nova crise, avisa a CNN

A estação norte-americana ouviu especialistas que alertaram para o estado de "sonambulismo" da economia da Europa, onde de verificou alguma recuperação da crise financeira de há 10 anos, mas não se viu uma revitalização.
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"A Europa está sonâmbula a caminho de mais uma década perdida", titula a secção de Economia da CNN esta sexta-feira.

A estação norte-americana ouviu especialistas que alertaram para o risco de uma nova crise no continente europeu, caso não sejam tomadas medidas de revitalização económica para contrariar a estagnação que se vive há uma década.

"Dez anos após a crise financeira global, a economia da Europa conseguiu uma recuperação, mas não uma revitalização. Baixa inflação, baixas taxas de juros e baixo crescimento tornaram-se o novo normal", é sublinhado.

Os efeitos "podem ser perigosos" e o "desperdício" de mais uma década "aprofundaria a crescente divisão entre a Europa urbana e a rural, privaria mais jovens do trabalho e alimentaria a instabilidade política".

Um dos peritos ouvidos pela CNN é Carsten Brzeski, economista-chefe do banco holandês INF, na Alemanha. No seu entender, o atual cenário pode levar a que se quebre o bloco da zona Euro, constituído por 19 países.

"O risco é alto de simplesmente acordarmos tarde demais e percebermos que perdemos muito tempo", disse Brzeski.

A CNN diz que "as condições na Europa atraíram comparações com a década perdida do Japão, um período de crescimento lento e inflação fraca na década de 1990, da qual o país nunca emergiu de forma convincente".

Desde o final de 2018, a inflação na zona do euro está abaixo da meta dos 2% estabelecidos pelo Banco Central Europeu (BCE). Em junho, chegou a 1,3%. O crescimento do PIB foi de 1,8% em 2018, e a previsão é de desacelerar para 1,2% este ano. O próximo ano pode ser ainda pior se a União Europeia (UE) tiver de enfrentar o Brexit no outono, destaca o canal televisivo norte-americano.

Por outro lado, as taxas de juros permanecem em mínimos históricos e Mário Draghi, presidente do BCE, deixará o cargo em outubro sem nunca as ter subido, em oito anos no cargo. A última vez que o Banco Central Europeu aumentou as taxas - em 2011 - a dívida de Portugal tinha acabado de ser rebaixada para o nível de "lixo", e a Grécia estava a aguardar outro resgate. A Irlanda tinha aceitado um pacote de resgate no ano anterior.

Muitas áreas "só começaram agora a recuperar", escreveram os economistas do ING Bert Colijn e Joanna Konings em maio. "A recuperação foi tépida o suficiente para justificar muitos anos de taxas de juros extremamente baixas e até negativas", afiança a CNN.

O mau exemplo do Japão

Recuando na história e olhando para o exemplo do Japão - que na década de 90 teve um período de crescimento lento e baixa inflação, nunca mais emergindo de forma convincente - os analistas receiam que o passado se repita agora na UE.

O Japão está atualmente a entrar na terceira década de baixo crescimento, baixa inflação e taxas de juro baixas.

A UE está a crescer mais rapidamente mas, tal como o Japão, a população está a envelhecer e os reformados a arrastar a economia para baixo, porque economizam em vez de gastar.

Mas se, do lado dos japoneses existe um banco central e um governo nacional permite decisões mais céleres (apesar de, até ao momento, sem grande eficácia), o projeto de integração económica europeia está inacabado.

O euro foi introduzido a 1 de janeiro de 1999. Mas 20 anos depois, os países da UE não conseguiram coordenar a política fiscal complementar que poderia impulsionar a união monetária.

Os países da UE estabelecem seus próprios orçamentos e implementam seus próprios planos tributários dentro de um quadro de regras que devem limitar os empréstimos. Fica nas mãos do BCE resolver problemas maiores, numa altura em que o seu poder já está limitado, devido a decisões na última década.

"A zona do euro ainda está a coxear", disse Jonathan Gregory, diretor de renda fixa do Reino Unido para a UBS Asset Management. "Não é óbvio que isso vai mudar em breve".

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