A crise política do Brasil terá amanhã um dia decisivo quando, em reunião de direção, o PMDB vai votar se continua aliado a Dilma Rousseff e contra o 'impeachment' ou se desembarca do executivo e apoia a destituição da presidente. Maior partido em número de parlamentares no Brasil e confederação de interesses, ideias e pessoas, às vezes antagónicos, o PMDB do vice-presidente Michel Temer, que herdaria a presidência em caso de queda de Dilma, de Eduardo Cunha, o presidente da Câmara dos Deputados que é oposição frontal ao governo, e de Renan Calheiros, o presidente do Senado que é contrário ao 'impeachment', está dividido. Como diz um membro do partido, "na vida nada é definitivo, no PMDB menos ainda"..Por causa da indefinição, Temer cancelou uma viagem a Portugal para participar no seminário promovido pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e pelo Instituto de Direito Público, que tem Gilmar Mendes, juiz do Supremo Tribunal Federal considerado particularmente hostil ao PT, como coordenador. "Mas o encontro não será um complô contra o governo", afirmou o juiz sobre o evento onde estarão também os senadores do PSDB Aécio Neves e José Serra..Do lado do PT, a sua cúpula tem passado as últimas semanas agarrada à máquina de calcular, a contabilizar votos na Comissão do Impeachment, com 65 membros, e, depois, entre os 513 parlamentares que constituem a Câmara dos Deputados e que darão, ou não, sequência ao processo, encaminhando-o para o Senado. Neste momento, o governo dá como praticamente perdida a votação na comissão mas tem esperanças em bloquear o 'impeachment' na Câmara, onde, entre os sempre voláteis deputados brasileiros, 219 ainda podem pender para um lado ou para o outro. A favor da destituição estão 152. Contra estão 102. Para o processo seguir para o Senado, são necessários 342 votos (dois terços) pela queda de Dilma.."Queremos a paz mas estamos preparados para a guerra", disse Rui Falcão, presidente do PT. Em nome da primeira - a paz -, Lula da Silva, que não é ministro da Casa Civil na teoria mas na prática vem agindo como tal, tem mantido negociações com partidos aliados. E até Dilma, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, entrou no leilão de cargos para seduzir indecisos, um expediente muito comum na política brasileira, chamado de "fisiologismo" no país, que a presidente sempre demonstrara abominar..O PT teme um efeito dominó, caso o PMDB prefira "um bote salva-vidas a um camarote de luxo no Titanic", como disse o barão peemedebista Romero Jucá, no resto da base aliada. Pequenos partidos, animados apenas por continuar debaixo das asas do poder, podem preferir seguir Temer num governo de transição até 2018..A guerra, porém, é sempre uma opção para o PT, como o governo fez questão de demonstrar nos últimos dias ao destituir de um cargo público, a presidência da Funasa, órgão de apoio a índios, um protegido de Temer..Temer que já tem até programa de governo, baseado numa moção que apresentou em recente convenção do partido - "Pontes para o Futuro". Nela, promete reduzir o peso do Estado e o número de ministros, reformar a previdência, diminuir o impacto orçamental de programas sociais e outras medidas consideradas liberais. Os donos do dinheiro aprovam o "plano Temer". E, segundo o colunista do jornal Folha de S. Paulo Elio Gaspari, acreditam que ele, também visado na Lava-Jato, possa colocar "um advogado de empreiteiras no círculo de marqueses do Planalto ou mesmo no Ministério da Justiça", porque, diz o colunista, o PIB brasileiro "aprendeu até a conviver com o PT mas não consegue conviver com a Lava-Jato"..Outras figuras importantes do partido também se vêm posicionando: Eduardo Cunha, que na qualidade de líder dos deputados dirige a discussão do 'impeachment' de Dilma, faz de tudo para o acelerar, ao mesmo tempo que tenta protelar o seu próprio processo de destituição que corre na Comissão de Ética da Câmara por ter mentido aos deputados sobre o petrolão. E Renan Calheiros, presidente do Senado, sublinha a cada intervenção ser contra o 'impeachment'..Por outro lado, ministros do PMDB no governo Dilma não querem sair, enquanto deputados do partido contrários à presidente defendem que, nesse caso, deverão ser expulsos. "Quem apoiar Dilma deve ser expulso do partido", afirmou o deputado peemedebista Vieira Lima..Kátia Abreu e Eduardo Braga, respetivamente ministros da Agricultura e das Minas e Energia, reagiram. "Se o governo errou, erraram PT e PMDB juntos", disse Kátia. Braga, por seu lado, defendeu que esta decisão de romper com o governo "só serviu para rachar o partido em dois"..Em São Paulo