PM irlandês avisa Boris: "Sem backstop não há acordo"

O primeiro-ministro britânico reuniu-se com o homólogo irlandês em Dublin e voltou a dizer que espera ter um acordo no dia 18 para apresentar em Bruxelas. Mas Leo Varadkar não se mostrou otimista.
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O primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, afirmou que a remoção do mecanismo de salvaguarda (backstop) relativo à fronteira entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte sem qualquer substituição adequada significaria um Brexit sem acordo. "Na ausência de disposições alternativas, a ausência de backstop é um não acordo para nós," disse Varadkar antes das conversações com o seu homólogo britânico, Boris Johnson, em Dublin.

No dia em que a Câmara dos Comuns volta a votar a moção do governo para dissolver o Parlamento e convocar eleições antecipadas, para logo a seguir interromper os trabalhos até 14 de outubro, Johnson disse não não estar intimidado com o que os deputados decidirem. "Estou absolutamente despreocupado com o que quer que aconteça no Parlamento", disse o sucessor de Theresa May. "O que o povo britânico quer é chegarmos a um acordo, seguirmos em frente e sairmos no dia 31 de outubro."

Johnson disse que iria partilhar ideias com Varadkar sobre formas de resolver o problema da fronteira irlandesa, mas que era improvável um avanço na segunda-feira. No entanto, não adiantou que ideias seriam. "Tenho uma mensagem que quero transmitir hoje, Leo, é que quero chegar a um acordo", disse Johnson, que se declarou contrário a uma saída sem acordo.

"É claro, nós poderíamos fazer isso, o Reino Unido poderia certamente passar por isso, mas não tenha dúvidas de que o resultado seria um fracasso da construção do Estado pelo qual todos nós seríamos responsáveis. Portanto, para o bem dos negócios, dos agricultores e de milhões de pessoas comuns que estão a contar connosco para usar a nossa imaginação e criatividade, quero que saibam que eu preferiria fortemente chegar a um acordo."

Já o taoiseach (chefe de governo) irlandês carregou na tecla do seguro que é o mecanismo de salvaguarda na prevenção de uma fronteira física. Varadkar disse que não substituiria uma garantia legal para impedir o retorno dos controlos fronteiriços entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda sem uma alternativa específica ou por uma "promessa".

"Na minha opinião, a história do Brexit não terminará se o Reino Unido sair da União Europeia no dia 31 de outubro ou mesmo no dia 31 de janeiro", continuou. "Não existe tal coisa como uma saída limpa ou apenas tratar do assunto. Em vez disso, vamos apenas passar para uma nova fase".

Também destacou que um Brexit sem acordo representaria o início de anos de negociações e com urgência para abordar os direitos dos cidadãos, o acordo financeiro e a fronteira irlandesa, todas as questões que tinham sido incluídas no acordo de retirada rubricado por Theresa May e Bruxelas e recusado por três vezes pelo Parlamento britânico.

Advertiu ainda Boris Johnson que, mesmo que se chegue a um acordo, um futuro acordo de comércio livre é uma tarefa "hercúlea".

Downing Street desafia deputados

No dia em que ganha forma de lei o projeto aprovado pela Câmara dos Comuns e pela Câmara dos Lordes para impedir uma saída do Reino Unido da UE sem acordo e que, caso necessário, se peça uma extensão do Artigo 50.º para que o Brexit se concretize no dia 31 de janeiro de 2020, uma fonte do governo disse aos jornalistas que Boris Johnson não irá pedir a Bruxelas nova extensão.

"Se os deputados querem resolver isto há uma forma simples: votem pelas eleições hoje e deixem o povo decidir", disse um porta-voz do primeiro-ministro. No entanto, a moção que irá a votos deve ser rejeitada de novo. Os deputados desconfiam que Boris Johnson, que tem a prerrogativa de alterar a data das eleições, possa adiar a data para depois de 15 de outubro, levando a que o Brexit se concretize sem acordo.

O executivo britânico confirmou que o Parlamento tem hoje o último dia de trabalhos até 14 de outubro. O habitual período de suspensão em setembro, que ocorre durante uns dias para a realização de congressos partidários, foi estendido a cinco semanas. Uma medida que causou indignação em toda a oposição e ao presidente da Câmara John Bercow, que classificou a iniciativa de "ultraje constitucional". As tentativas de travar a suspensão em tribunal foram rejeitadas.

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