Plano Marshall, segunda versão?
A comunidade internacional uniu-se, uma vez mais, em prol dos invadidos e em detrimento dos invasores. Na conferência de doadores foram angariados, ontem, 6,15 mil milhões de euros para a Ucrânia. Vai chegar para reconstruir a destruição a que assistimos naquele país que faz fronteira com a Rússia? Não, mas vai ajudar.
No encontro, organizado pela Polónia e Suécia, o primeiro-ministro polaco garantiu que "esse dinheiro será distribuído para apoiar a Ucrânia e todos aqueles que apoiam a Ucrânia", disse Mateusz Morawiecki. A primeira-ministra sueca, Madalena Andersson, referiu que a soma excedeu as suas expectativas e sublinhou que o objetivo é ajudar a Ucrânia, agora e também mais tarde, na sua reconstrução.
Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, foi mais longe e prometeu um "Plano Marshall europeu", com doações e usando bens russos para a reconstrução da Ucrânia. Como é que isso se faz? Segundo este líder, através de um Fundo de Solidariedade da União Europeia para reerguer o país. Para o presidente do Conselho Europeu, esses fundos não devem vir apenas dos cofres dos Estados da União Europeia, mas da própria Rússia, através dos seus bens que, confiscados, deverão ser disponibilizados para ajudar na reconstrução, defende. Charles Michel diz tratar-se de "uma questão de justiça".
Um Plano Marshall europeu viverá dos contributos de todos, inclusive de Portugal. Aliás, na mesma conferência, o primeiro-ministro português, António Costa, anunciou que o país vai contribuir com 2,1 milhões de euros em ajuda humanitária à Ucrânia, dos quais um milhão de euros para as respostas das Nações Unidas e 1,1 milhões adicionais.
Se 9 de maio é um dia importante para Vladimir Putin - não se antevendo o que irá fazer, se declarar guerra oficialmente depois de toda a destruição já consumada ou se fará um desfile do seu poder militar pelas ruas de Kiev -, para os europeus esta é a data que assinala o Dia de Europa. Assim, segunda-feira é dia de lembrar a paz e a unidade após os horrores da Segunda Guerra Mundial. Na sequência desta, é também tempo de recordar o Plano Marshall e a maneira eficaz como ajudou a ressuscitar uma Europa em cinzas. Mais do que um despejar de dinheiro sobre as economias devastadas, foi um balão de oxigénio e esperança e um motor de solidariedade que, em 2022, poderá vir a ser replicado para apoiar uma Ucrânia reerguida.
Ao lançar para a mesa a ideia de um novo Plano Marshall, Charles Michel tenta assim antecipar-se aos Estados Unidos, mas a Europa não deve esquecer a História e os benefícios da relação transatlântica. Os EUA serão sempre parceiro fundamental da reconstrução pós-guerra, na defesa e também na diversificação da dependência energética, um tema que interessa particularmente a Portugal, seja nas Lajes (Açores), seja em Sines.
Diretora do Diário de Notícias