Plano Marshall faz hoje 75 anos. Nascerá outro em 2022?
Em 1947, ao dia de hoje, 5 de junho, o Departamento de Estado dos Estados Unidos, sob comando de George Marshall, anunciou o Programa de Recuperação Europeu com toda a solenidade na Universidade de Harvard. O secretário de Estado norte-americano entendia que a chave para a restauração da estabilidade política atlântica estava na forte recuperação das economias nacionais europeias, depois de terem sido arrasadas pela Segunda Guerra Mundial. Este momento perfaz hoje 75 anos.
George Marshall, no seu discurso, tornava pública a intenção norte-americana de apoiar os países europeus depauperados pelo conflito. A proposta foi aceite pelos países da Europa Ocidental, que viram nela a via para a recuperação económica. O programa durou quatro anos e foi preciso romper com o impasse económico e dinamizar os países na reconstrução.
Os EUA enviaram para a Europa cerca de 13 mil milhões de dólares, representando anualmente perto de 1,2% do total do produto nacional bruto americano, entre 1948 e 1951. O sucesso alcançado e o reconhecimento internacional transformaram-no no modelo dos programas de ajuda ao exterior. O plano passou por cima dos tiques de nacionalismos e de todos os protecionismos. Urgia resolver as feridas da guerra que abalou o mundo e destruiu a Europa, sanar a crise e recuperar o tecido social e económico.
Terá de haver um novo Plano Marshall quando a guerra acabar na Ucrânia, o que pode ser vantajoso para todos os ucranianos, mas também para a União Europeia. Além disso, a Europa não está em escombros, como na Segunda Guerra, mas tem problemas estruturais identificados há muito e para os resolver precisa de uma estratégia e uma liderança política mais forte.
Os cidadãos europeus ainda não estão a sentir os efeitos de um outro suposto Plano Marshall europeu, anunciado na fase crítica da pandemia de covid-19, que será o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), também chamado de "bazuca", com foco na estratégia para 2030 da transição energética, transformação digital e clima. Durante a pandemia e logo a seguir, durante a invasão da Rússia à Ucrânia, quebraram-se cadeias de abastecimento, aumentaram os custos de matérias-primas e bens alimentares, a inflação disparou e a recuperação de vários setores económicos, em especial na indústria, é ainda tímida, devido à subida (e escassez) das matérias-primas. Portanto, o cenário que resulta da guerra de Putin é diferente da destruição causada por Hitler há mais de 75 anos, mas a Europa terá de ser mais ágil, forte e autónoma e usar eficazmente o novo plano para um crescimento mais robusto e sustentável.