No final do mês passado, a Netflix recusou pagar um resgate pelos episódios da primeira série Orange Is the New Black. Um hacker, denominado The Dark Overlord, disponibilizou online o primeiro de dez episódios, exigindo à produtora dinheiro pelos restantes. A Netflix não pagou e, num instante, milhões de pessoas tiveram acesso a uma série completa, que ainda nem sequer tinha estreado. Este é um exemplo do tipo de ataque informático, conhecido como ransomware, que ontem atingiu empresas e instituições de 99 países, incluindo a Península Ibérica. Em Portugal, a PT foi a mais afetada. A empresa foi obrigada a ativar um plano de segurança contra a atividade dos hackers, com alguns trabalhadores a receber ordem para desligar o computador, mas garante que o ataque não teve repercussão ou impacto nos serviços..O ransomware já tinha sido eleito pelas autoridades portuguesas como a principal tendência do crime informático para 2017. Em janeiro ao DN (ver edição de dia 8), Vítor Morais, membro do Departamento de Políticas e Desenvolvimento Estratégico do Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS), tinha previsto um aumento desta forma de ataque informático. Ontem, os elementos do CNCS (www.cncs.gov.pt) estiveram a trabalhar lado a lado com inspetores da Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e Criminalidade Tecnológica da Polícia Judiciária na investigação ao ataque..A Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou também estar a "acompanhar atentamente a situação em estreita colaboração com as entidades nacionais responsáveis pela cibersegurança e pela repressão da cibercriminalidade"..Segundo Pedro Veiga, coordenador do CNCS, suspeita-se que a ação possa ter tido origem no Brasil, porém, como lembrou o mesmo responsável, "neste tipo de ataques é muito difícil encontrar a origem", uma vez que os piratas podem perfeitamente esconder online a sua base de operações..Fonte oficial do Ministério da Administração Interna confirmou que o governo está a acompanhar a situação através das autoridades competentes e que a rede nacional de segurança interna não foi atacada por qualquer ciberataque..Em reação aos ataques, a EDP cortou os acessos à internet da sua rede para prevenir um ataque informático e veio garantir que não foi registado qualquer problema nos seus sistemas. "Tendo conhecimento do ataque massivo, a EDP, em coordenação com outras entidades, em concreto com a PJ e o cert.pt, decidiu cortar os acessos internet na sua rede, como medida preventiva, não tendo ainda registo de incidentes no parque informático da sua organização", disse ao DN fonte oficial da EDP..Já a Portugal Telecom alertou os seus clientes para a existência de um vírus perigoso (malware) a circular na internet e pediu aos utilizadores cautela na navegação na rede e na abertura de anexos recebidos por correio eletrónico. Isto depois de a multinacional espanhola de telecomunicações Telefonica ter sido obrigada a desligar os computadores da sua sede central em Madrid, após detetar um vírus informático que bloqueou alguns equipamentos..A petrolífera Galp disse estar "atenta e a monitorizar a situação desde o final da manhã, tendo reforçado as medidas de prevenção e segurança" dos seus sistemas..Ao final do dia a empresa de segurança informática Avast indicava que o vírus tinha atingido ontem 99 países de diferentes continentes. No Reino Unido, hospitais do serviço nacional de saúde relataram estar a sofrer importantes problemas informáticos. Segundo a BBC, os problemas foram detetados em hospitais de Londres, Blackburn, Cumbria e Hertfordshire, no Noroeste de Inglaterra..Ao DN, Andreia Teixeira, especialista em cibersegurança da empresa AON, confirmou já se ter verificado que a tendência para os próximos anos são ataques de ransomware. "Há cada vez mais situações desta extorsão cibernética, que procura manter as empresas reféns e com a sua operação paralisada." Além da aposta na prevenção, Andreia Teixeira aconselha as empresas a procurar "informáticos forenses" que lhes permitam tentar resolver o problema o mais rapidamente possível, já que "os ataques podem paralisar as sociedades durante muito tempo".