PJ Harvey levou-nos à guerra
O Coliseu dos Recreios esteve longos minutos a pedir o regresso ao palco de PJ Harvey e dos outros nove que acompanhavam e quando a britânica regressou fez-se ouvir com um "thank you very much". Até aí, as palavras ficaram por conta das canções - e de um breve anúncio, quando Polly Jean apresentou a banda, também já perto do final do concerto em Lisboa.
O concerto foi assim: ao osso, direto, sem rodriguinhos, daqueles em que cada membro da banda tem direito a um minuto de exibição. Ali não: o que conta são as palavras das canções, os sons que as cantam - e a voz (e como cantou PJ Harvey esta noite!).
Para o mais recente The Hope Six Demolition Project, cuja digressão passou esta quinta-feira à noite por Lisboa, Polly Jean foi à guerra no Kosovo e no Afeganistão, mas também em Washington. A repórter que se fez ao caminho contou-nos as histórias do que viu, num palco de cenário ascético, de formas geométricas que pareciam abrir janelas para o mundo e só variavam nas cores graníticas ou quentes (como esta estranha noite de finais de outubro).
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Este é um álbum político sem medo de o ser, com PJ Harvey a mostrá-lo no palco, de forma implacável, num rock que se faz de metais, percussões, guitarras, baixo e teclas, desde os primeiros acordes (como se fosse uma marcha) de Chain of Keys até aos sons finais quase a capella de River Anacostia, com que se encerra o concerto antes do encore, mas passando também por 50ft Queenie (de Rid of Me) ou Down by the Water (que se ouve em To Bring You My Love).
Let England Shake, o álbum de 2011, é o outro trabalho que mais vezes PJ Harvey trará ao palco e de onde resgatará o tema com que fecha o encore de menos de dez minutos, The Last Living Rose, em que se ouve "Take me back to beautiful England". O público que celebrou este acontecimento parecia pouco disponível a deixar partir quem lhes contou assim a guerra.