Pizzi. O talento ao serviço do coletivo garantiu o equilíbrio ao campeão

Aos 27 anos, o médio transmontano foi a grande figura do tetra encarnado, fazendo esquecer rapidamente o explosivo Renato Sanches na posição 8 do esquema de Rui Vitória. Marcou, assistiu, defendeu e foi sempre o farol que a equipa precisava no meio-campo
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Numa época em que as lesões em elementos-chave da equipa se foram sucedendo, Rui Vitória pôde sempre contar com a fiabilidade de Luís Miguel Afonso Fernandes. Pizzi, nome "artístico" com que o batizaram ainda na sua Bragança natal - pela capacidade goleadora e por jogar com uma camisola do Barça, onde então brilhava o avançado argentino e atual selecionador chileno com esse nome -, foi a grande figura do título que assegurou ao clube lisboeta um inédito tetra: fez esquecer rapidamente Renato Sanches, mesmo sendo um jogador diferente do antigo colega que partiu para Munique, e tornou-se o ponto central de todo o jogo encarnado.

Mais que um médio box-to-box, o transmontano foi sempre o garante do equilíbrio da equipa, pensando fora da caixa. Cada vez mais completo, continuou com capacidade para marcar muitos golos (dez na Liga, sendo o terceiro melhor do conjunto) mesmo atuando mais longe da área, assistir os colegas (oito vezes, com o passe para o primeiro golo de Jonas ontem) e ajudar nas funções defensivas (uma média de 6,8 recuperações de posse por partida). Todo o jogo do Benfica passa pelos seus pés, como o provam os dados estatísticos fornecidos pelo goalpoint: toca na bola, em média, 100 vezes por jogo, número que o coloca no top10 europeu e não tem igual no futebol português. E fá-lo quase sempre bem: nas 32 jornadas disputadas antes de ontem, acertou 84 por cento dos passes que efetuou (o que corresponde a mais de 2000, contra 1955 de William Carvalho). Com uma capacidade técnica acima da média, Pizzi soube utilizá-la sobretudo em prol do coletivo, transformando-se numa espécie de líder discreto: joga frequentemente simples mas ainda assim é imprevisível, combinando ora com o segundo avançado (sobretudo Jonas), ora juntando-se aos flancos para criar superioridade nas alas. Foi ele que geriu os ritmos do conjunto, o metrónomo que manteve a orquestra afinada durante toda a temporada.

Totalista

Aos 27 anos, para muitos a idade ideal num futebolista - quando o auge físico se une à indispensável maturidade -, Pizzi foi sempre primeira escolha para Rui Vitória. Titular em todos os jogos da Liga (único no plantel do Benfica a fazê-lo e um dos sete da competição), geriu bem a condição física e o facto de ter acumulado bem cedo quatro amarelos (à 10.ª jornada), mesmo não sendo um jogador particularmente faltoso (uma média de 1,5 infrações por encontro). Após passar a fase inicial da carreira em sucessivos empréstimos (jogou nos escalões secundários, no principal e passou três anos essenciais na competitiva Liga espanhola, com Atlético Madrid, Deportivo e Espanyol), Pizzi assentou arraiais na Luz e somou o seu terceiro título de campeão nacional. O qual, diga-se, tem a sua assinatura em plano de destaque.

Outras figuras do título do Benfica

Guarda-redes: Ederson, especialista em manter a baliza fechada

Começou a época fora das opções de Rui Vitória por causa de problemas físicos (menisco e boca) mas depois de entrar no onze, à sexta jornada, só saiu quando teve de cumprir castigo por ter sido expulso frente ao Arouca - um dos seus raros erros durante a época, sendo o outro em Alvalade. Sofreu apenas 12 golos nos 27 jogos (18 em branco...) que efetuou e apenas Marítimo e Boavista conseguiram marcar-lhe mais do que uma vez. Elástico e rápido a sair dos postes, mostrou por que é cobiçado em ligas mais fortes aos 23 anos.

Defesa: Nélson Semedo, o lateral com mentalidade de extremo

Agarrou a titularidade no lado direito da defesa encarnada e não a largou, dando seguimento à promessa que deixara na temporada passada. É um dos jogadores jovens mais entusiasmantes da atualidade e é sem surpresa que alguns dos "tubarões" europeus estão interessados no seu concurso: aos 23 anos, é um valor seguro pela maturidade que revela jogo a jogo. Defensivamente ainda não é perfeito mas a profundidade que dá às ações ofensivas da equipa tornam o conjunto largamente vantajoso - e perfeito para as transições rápidas que este Benfica tanto aprecia. Até ao momento só falhou dois jogos no campeonato, assinando um golo e efetuando seis assistências: é extremamente veloz, o que lhe permite chegar rapidamente à linha, e muito evoluído tecnicamente, capaz de driblar e centrar como um extremo.

Outros destaques: Sob a orientação de Luisão, que após uma época em que muita gente lhe antevia o final de carreira teve forças para voltar a ser o central de betão e o líder reconhecido da equipa em campo, a defesa do Benfica esteve ao nível exigido a um campeão. Muito graças ao fiável sueco Lindelöf (que ainda marcou um golo importante em Alvalade), mas também às contribuições de Lisandro López (titular na fase inicial da época e autor do empate no Dragão), dos laterais-esquerdos Grimaldo e Eliseu e do pronto-socorro André Almeida.

Médio: Fejsa, o papa-títulos que varre o meio-campo

Mais um ano, mais um título nacional para o médio sérvio - somou agora o seu décimo consecutivo (três no seu país, três na Grécia e quatro em Portugal)! Mas o seu papel está longe de ser o de um mero amuleto da sorte. Aos 28 anos, o homem que ocupa a posição 6 no Benfica continuou a ser o primeiro a assegurar a estabilidade defensiva da equipa, "varrendo" tudo o que lhe apareceu à frente, recuperando bolas e reduzindo espaços ao adversário, graças a um apurado sentido posicional e à agressividade com que disputa todos os lances, normalmente de forma inteligente - daí só ter visto três amarelos nas 25 partidas que até agora disputou na Liga. Falhou todo o mês de março devido a lesão: a questão física continua a ser o seu calcanhar de Aquiles, mesmo que esta temporada tenha feito a sua época mais consistente na Luz.

Outros destaques: Se, no centro, a opção de Rui Vitória foi muito clara (embora Samaris tenha cumprido sempre que foi preciso), nas alas... nem por isso. À direita, Salvio foi quase sempre a primeira opção, apesar de alguma contestação, e somou quatro golos e seis assistências. À esquerda, o habilidoso Cervi mostrou-se uma boa contratação, mesmo que não seja ainda regular (2 golos/2 assistências). Por isso, Rafa, com um bom final de época (2/3), e Zivkovic (0/2) foram também chamados à ação, enquanto Carrillo (2/1) pagou o ano sem jogar.

Avançado: Jonas, nem as lesões travaram a sua influência

Não há em Portugal quem jogue como o avançado brasileiro que o Benfica soube apanhar em Valência. A sua capacidade para jogar entre linhas e de surgir onde menos se espera tem feito mossa nas defesas adversárias, que raramente se entendem com a marcação a efetuar. Ainda assim, e depois de uma temporada em que se sagrou melhor marcador, a época de Jonas não foi particularmente feliz, devido aos problemas físicos que o condicionaram: fez pouco mais de metade dos jogos (19, quatro como suplente utilizado) da equipa na Liga, saltando praticamente toda a 1.ª volta. Apesar disso, foi essencial na reta final, apontando golos decisivos em jogos complicados - para um total de 13 remates certeiros, a que juntou quatro assistências. E no jogo da consagração bisou, primeiro com um vistoso chapéu a Douglas e depois de penálti a fixar o 5-0 final.

Outros destaques: Mesmo sem se ter destacado nos jogos mais importantes, o grego Mitroglou voltou a cumprir: com 15 golos e uma assistência, ajudou a desbloquear alguns jogos que prometiam complicar-se. Devido à lesão de Jonas, foi muitas vezes acompanhado por um Gonçalo Guedes (dois golos, duas assistências) algo irregular na primeira metade da época, antes de seguir para Paris. O mexicano Raúl Jiménez, intermitente devido a problemas físicos, apareceu outra vez nas alturas certas e só com 747 minutos fez sete golos.

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