Pintura feita por Inteligência Artificial vai a leilão na Christie's
Edmond de Belamy podia ter sido um distinto francês do século XVIII, cujo retrato ficou imortalizado numa pintura, tal como Madame de Belamy, Le Comte de Belamy e La Comtesse de Belamy, alguns dos 11 retratos desta família imaginária. Na realidade, Edmond de Belamy e restante clã são o resultado de uma fórmula matemática criada pelo coletivo francês Obvious.
Edmond de Belamy é uma impressão que resulta da Generative adversarial networks (GAN), ou rede geradora de adversários, uma classe de algoritmos de Inteligência Artificial (IA). A fórmula foi inventada por uma equipa liderada por Ian Goodfellow, do Departamento de Informática da Universidade de Montreal, em 2014.
O nome Belamy, ou mais rigorosamente bel ami, é uma homenagem a Goodfellow.
A assinatura do quadro é a equação criada por Goodfellow.
Explica um dos membros do trio Obvious, Hugo Caselles-Dupré: "O algoritmo é composto por duas partes. De um lado está o gerador, do outro o discriminador. Nós alimentamos o sistema com um conjunto de dados de 15 mil retratos pintados entre o século XIV e o século XX. O gerador cria uma nova imagem com base no conjunto e depois o discriminador tenta identificar a diferença entre uma imagem criada pelo homem e outra criada pelo gerador. O objetivo é enganar o discriminador em pensar que as novas imagens são retratos da vida real. Então chegamos a um resultado."
O quadro está incluído num lote de 300 obras de arte, que inclui trabalhos de Andy Warhol, Roy Lichtenstein, Marcel Duchamp, Henri Matisse, Marc Chagall ou Edvard Munch. Edmond de Belamy tem um valor estimado de 7 mil a 10 mil dólares.
A discussão está em cima da mesa. Estes quadros são obras de arte ou o resultado do avanço da tecnologia? Os franceses Hugo Caselles-Dupré, Pierre Fautrel and Gauthier Vernier, no topo da página do grupo Obvious citam Picasso (também há uma água-tinta do espanhol à venda no leilão): "Os computadores são inúteis. Só sabem dar respostas" para logo de seguida afirmarem o seu desacordo com a publicação da fórmula matemática.
"Pensamos que isto permite ao grande público compreender o que se pode fazer com a Inteligência Artificial", diz Gauthier Vernier ao France 24. E questionado se a IA vai ser o artista do futuro, o francês compara o algoritmo a uma máquina fotográfica, é um novo meio para o homem se exprimir. "A IA não é capaz de exprimir uma intenção artística", afirma.
O coletivo Obvious não foi o pioneiro na realização de pinturas com a Inteligência Artificial. Em 2016 foi dado a conhecer o "novo Rembrandt", uma pintura realizada em impressora 3D. Foi o resultado de uma parceria que envolveu a Microsoft, a Universidade de Delft e dois museus holandeses.