Pintor e ilustrador. O lado artístico de D. Fernando II

Assinalando o bicentenário do nascimento do rei consorte, o Palácio da Pena, a sua maior obra, expôs as suas gravuras, cerâmicas e desenhos nos restaurados aposentos do neto.
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D. Fernando II andava sempre com um caderno no bolso. Desenhava a toda a hora, compulsivo, "conhecem-se desenhos do mês e ano da sua morte". A descrição é de Hugo Xavier, historiador de arte e conservador do Palácio da Pena, a propósito da inauguração de uma nova exposição naquele local, "a grande obra" do rei consorte, casado com D. Maria II.

Nas salas que serviram de aposentos ao último rei de Portugal, D. Manuel II, no final do século XIX (e agora restauradas), reúne-se a obra pictórica do bisavô. Desenhos, uma caricatura de si próprio como colecionador ("compro velharias e curiosidades de todo o género e vendo também à ocasião"), gravuras e peças de cerâmica que atestam a vocação artística do Saxe-Coburgo de quem se conhece uma pintura com 14 anos. Desde os nove que tem aulas de desenho. As suas obras ilustram as páginas do catálogo, cujas provas Hugo Xavier folheia para o DN. Uma das primeiras é um desenho de duendes com uma grande flor, que terá sido das primeiras que fez em Portugal. Chegou em 1836.

A exposição e o livro que a documenta chamam-se Fernando Saxe-Coburgo Fecit: A Atividade Artística do Rei Consorte, uma memória da assinatura do rei, presente em todos os seus trabalho. O rei tinha o hábito de acrescentar o local de execução. O conservador conduz a visita pelas salas, entre vitrinas azuis condizentes com a decoração do local. Começa pelas provas de gravura, um hábito que trouxe de Viena de Áustria, onde nasceu e onde viveu até casar-se com D. Maria II, aos 20 anos. Traz para Portugal o hábito da árvore de Natal e regista-o num cartão onde se desenha a si mesmo, vestido de S. Nicolau entregando presentes aos príncipes com a árvore em fundo.

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Parte do que aqui se encontra é inédito. Resulta da aquisição de um espólio de peças de D. Fernando, em 2012, pela Parques de Sintra, empresa que gere o Palácio Pena. Outras já aqui estavam. Ou pertenciam aos descendentes da condessa d"Edla, a sua segunda mulher, que também habitou este palácio. Ou vieram, por empréstimo, do Palácio da Ajuda, da Casa de Bragança, de coleções particulares ou do Museu Nacional de Arte Antiga, onde estão as matrizes das gravuras de D. Fernando II. Foi lá que a viúva entregou o espólio artístico.

O monarca pintou abundantemente para a cantora lírica de origem suíça e família nos EUA que conheceu no teatro S. Carlos. De tal forma que Hugo Xavier guardou uma destas quatro divisões para expor apenas objetos oferecidos à condessa d" Edla. Chama-se Pour Elise, como D. Fernando assinava as peças oferecidas a Elise Hensler.

Entre elas está o espelho de madeira adornado com pratos de cerâmica, outra técnica que usou. Pintou mais de 100 exemplares, desinteressando-se da gravura a partir de 1860.

Nesta sala está o quadro de D. Fernando II assinado pelo pintor Joseph-Fourtuné Layraud em 1877. "É o único local com pé direito suficiente", diz Hugo Xavier explicando o porquê de estar neste local - tem 2, 30 metros de altura. Ficará depois da exposição terminar a 30 de abril de 2017, pois estas salas serão locais de evocação das duas gerações que por aqui passaram. Outras duas divisões, serão museografadas respeitando o que aqui se encontrava no tempo do seu ocupante, como gabinete e quarto de dormir, com mobiliário original ou da época.

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