Pilotos de resgate querem mudar opinião pública sobre si em nova série

Resgates no Everest mostra grupo de elite que salva vidas de alpinistas e sherpas nesta montanha. O DN falou com dois deles.
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Em 2013, o El País contava que mais de quatro mil pessoas já subiram ao topo do Evereste, desde que a famosa montanha na cordilheira dos Himalaias, na fronteira entre a República Popular da China e o Nepal, foi escalada até ao topo pela primeira vez, em 1953.

Mas se todas estas histórias tiveram um final feliz, muitas outras resultaram em experiências de perigo, risco de vida e de tentativa de sobrevivência para alpinistas aventureiros e sherpas. A ajudá-los em caso de acidente e emergência está um grupo de elite de pilotos que realizam, diariamente, resgates no Evereste via helicóptero. Depois de o Discovery ter seguido, durante meses, o dia-a-dia de alguns destes profissionais de salvamento, o resultado pode ser visto a partir desta quarta-feira, pelas 21.00, com a estreia da série documental Resgates no Everest, de seis episódios.

Com vários anos de experiência, o neozelandês Jason Laing e o suíço Lorenz Nufer são dois dos protagonistas do formato. Em entrevista ao DN, explicam que uma das razões que os fizeram aceitar o convite do Discovery foi a possibilidade de mudar a opinião das pessoas acerca do que fazem. "Não somos um bando de cowboys. Não quero que o público pense que tomamos grandes riscos só porque sim. Precisam de ver a organização que se passa nos bastidores. Garanto que tentamos minimizar o risco. Quero que essa seja a principal perceção do público", conta Jason Laing.

Sobre a questão da segurança no seu trabalho, o colega Lorenz Nufer acrescenta: "Temos seguro para tudo o que fazemos. Mas essa pode ser uma falsa segurança porque a vida em si é perigosa, até se pegares no teu carro e o conduzires. Por vezes, a nossa profissão é perigosa, mas esse é um risco aceite por nós. Espero que o programa mostre que não andamos a correr riscos à toa, mas sim que há muito planeamento no que fazemos", frisa o suíço.

Os dois estão de acordo quando dizem que as famílias, embora percebam e respeitem o que fazem, são quem mais sofre quando passam temporadas a resgatar alpinistas. "A minha família percebe que o faço por uma boa razão. Ninguém planeia sair de casa e não voltar. Mas estou certo de que a minha mulher, Robin, se preocupa, embora ela diga que não", conta Laing. "A minha companheira, Claudia, não fica preocupada porque me conhece e confia nas minhas decisões. Os meus pais preocupam-se, definitivamente. Mas penso que esse seja o papel de qualquer pai", adianta Nufer, piloto há 16 anos.

Questionado sobre a maior dificuldade que encontrou durante os meses de gravação no Evereste, Jason Laing é perentório: "São as extremas altitudes nas quais trabalhamos. Estamos no limite máximo em que se pode voar. Esse é um dos maiores desafios. E as condições climáticas", revela o neozelandês de 48 anos. Nufer concorda, mas acrescenta: "Por vezes, são as pessoas. No Nepal, voamos para locais remotos onde as pessoas não sabem nada sobre um helicóptero, e isso pode causar riscos quando se aproximam deste. E pode tornar-se difícil comunicar com eles", diz.

Num trabalho tão específico como este, algumas características na personalidade de um piloto tornam-se cruciais, explica Jason Laing. "Há que estar sempre alerta para o que nos rodeia em situações de pressão extrema, assim como não ceder à tensão do momento. Na Antártida, aprendemos a parar e contar até cinco para reavaliar decisões e ganhar claridade de pensamento", afirma o protagonista de Resgates no Everest. "É fundamental conheceres-te a ti próprio e aos teus limites", acrescenta, de seguida, Lorenz Nufer. E explica: "Conhecer os limites de uma máquina como o helicóptero faz parte, mas conheceres os teus é fundamental. E seres honesto quando achares que os estás a atingir." O mesmo adianta que um dos erros mais comuns dos alpinistas é tirarem as luvas, nem que por momentos, e verem as suas mãos ficarem congeladas. Já a falta de oxigénio é a principal dificuldade apontada a quem queira subir a montanha.

Sobre como gostam de ocupar os tempos livres, quando não estão fora de casa em trabalho, ambos respondem que preferem passar tempo de qualidade com as filhas e a mulher. Laing conta que deu o nome de Tara à filha, de 2 anos, uma vez que significa "estrela" em nepalês. Já Lorenz Nufer adianta que pratica ioga, para aprender a concentrar-se.

Com o passar dos anos, ambos encontraram ferramentas para se esquecerem do stress ao final de um dia de trabalho. "Tento acalmar-me e filtrar tudo o que tenho na cabeça", conta Laing. "Para nos distrairmos, vamos jantar a qualquer lado e ver uma boa banda a tocar ao vivo. Há imensas no acampamento de Camp Mandu [no Nepal], fiquei impressionado. E, claro, ir cedo para a cama", afirma Nufer.

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