PGR pede prisão de Sarney, Renan e Jucá. Decisão cabe a Supremo

Para Rodrigo Janot os barões do PMDB tentaram obstruir a Operação Lava-Jato. Ex-presidente ficaria com pulseira eletrónica.
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O procurador-geral da República (PGR) solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a prisão de José Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá, três dos principais dirigentes do PMDB, principal partido do governo interino liderado pelo também peemedebista Michel Temer. Em causa, segundo Rodrigo Janot, as tentativas de obstrução à Operação Lava-Jato tornadas públicas em escutas das últimas semanas. Mais tarde, o PGR juntou o nome de Eduardo Cunha, ainda do PMDB, à lista. No caso de Sarney e Renan é a primeira vez na história do Brasil que a detenção de um ex-presidente e de um líder do Senado em exercício são pedidas. Para o ex-presidente foi requerido o uso de pulseira eletrónica (ou "tornozeleira", como lhe chamam no Brasil).

Sarney, de 86 anos, foi presidente de 1985 a 1990, além de senador por quase 30 anos, governador do Maranhão e presidente do Senado. Chegou ao posto mais alto da nação após a morte ainda antes da tomada de posse de Tancredo Neves (PMDB), que fora eleito por indicação parlamentar e não voto popular.

Renan , 60 anos, depois de longa carreira como deputado e senador e de assumir a pasta da Justiça no final da presidência de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), sucedeu a Sarney em 2013, na chefia do Senado. Alvo de nove inquéritos na Lava-Jato, corre ainda na justiça o caso que investiga o pagamento de pensão e apartamento a uma amante e uma filha fora do casamento por uma construtora, em Alagoas, seu estado de origem.

Jucá, 61 anos, foi governador do Roraima, e ministro da Previdência de Lula da Silva por três meses e do Planeamento de Temer por 12 dias, acabando demitido dos dois cargos. Primeiro por suspeitas de corrupção e agora pelas escutas.

Os três foram flagrados em conversas com Sérgio Machado, indicado pelo PMDB para a presidência da Transpetro, subsidiária da Petrobras, a tentar interferir nas investigações do Petrolão. Jucá disse que só uma mudança de governo - Dilma por Temer - estancaria a sangria da operação. Renan e Sarney procuraram encontrar pessoas capazes de influenciar o juiz do STF encarregado da Lava-Jato, Teori Zavascki, e sugeriram mudar leis para benefício próprio. Mais tarde, foi conhecida parte da delação premiada de Machado ao juiz Sérgio Moro na qual dizia ter transferido 70 milhões de reais (18 milhões de euros) da Petrobras aos três políticos.

Para Janot, também Cunha, que já foi afastado da presidência da Câmara dos Deputados, deve ser preso, uma vez que a punição anterior não resultou. Sublinha o PGR, que o deputado, mesmo a partir de casa, continua a manobrar o órgão. Segundo a imprensa, o pedido de Janot para a prisão dos quatro já está na secretária de Zavascki há uma semana mas só ontem foi tornado público pelo jornal O Globo.

Cunha não se pronunciara até ao fim da tarde de ontem. Jucá não vê "motivos" para a decisão. Os advogados de Sarney consideraram "inacreditável" ainda não terem tido acesso às gravações divulgadas na imprensa e o ex-presidente disse-se "perplexo". Renan enviou nota a considerar a solicitação de prisão "desproporcional e abusiva". Temer afirmou que só se pronunciará depois de Zavascki se decidir. E o seu ministro chefe da Casa Civil Eliseu Padilha disse "não saber absolutamente de nada" do que se passa.

Decorreu também ontem durante todo o dia a votação do relatório do Conselho de Ética para a destituição de Cunha do cargo de presidente da Câmara dos Deputados pelos seus pares. À partida, dez parlamentares votariam contra a perda de mandato, nove a favor e uma, Tia Eron (PRB), estava indecisa. Em caso de empate, o presidente do conselho José Carlos Araújo (PR) terá o voto de Minerva.

São Paulo

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