Petição quer corrigir "erro histórico" e entregar parte dos EUA ao Canadá
Quem olhar com detalhe para o mapa dos Estados Unidos da América pode encontrar uma aparente bizarria na fronteira entre o Minnesota e o Canadá: a linha que corta o território desde a costa oeste é abruptamente interrompida e deriva para norte, apanhando boa parte do Lagos dos Bosques e uma pequena superfície de terra, Northwest Angle (o Ângulo Noroeste). São apenas 319 quilómetros quadrados de terra firme rodeados pelas províncias canadianas de Manitoba e Ontario, habitados por 120 pessoas, mas com grande significado, já que esta é a única parte dos EUA - à exceção do Alasca - a norte do paralelo 49. Um erro histórico, no entendimento dos signatários de uma petição criada no site da Casa Branca há um mês e que pede que "a América seja grande corrigindo esse erro".
Na base da argumentação dos peticionários está o facto de britânicos e norte-americanos terem usado o mapa de Mitchell, publicado em 1755 pelo médico e botânico John Mitchell, para estabelecer as fronteiras naquela zona a seguir à Guerra da Independência (1775-1783). Mapa onde o Lago dos Bosques surgiria em forma oval e não refletindo com precisão os vários acidentes geográficos do local, como baías. O Tratado de Paris estabeleceu que a fronteira entre Estados Unidos e as possessões britânicas no norte seria feita através da bacia do Lago dos Bosques ao ponto mais a noroeste.
"Os negociadores da fronteira inicial entre o Canadá e os EUA não compreenderam a geografia da área. Benjamim Franklin e os representantes britânicos confiaram no Mapa de Michell. Devido a erros de pesquisa, este é o único local dos EUA, à exceção do Alasca, que fica a norte do paralelo 49", apontam os peticionários, que pedem a entrega de uma área total de 1544 quilómetros quadrados - a esmagadora maioria numa zona aquática - ao Canadá.
Uma intenção votada ao fracasso absoluto. É que a petição tem de conseguir 100 mil assinaturas até ao final desta terça-feira para ter uma resposta da Casa Branca, mas até agora não chegou sequer às seis mil. Nem os habitantes locais, economicamente ligados aos setores do turismo e da pesca desportiva, parecem estar muito interessados em mudar agora de nacionalidade. "Não tenho nada contra os canadianos, mas sou uma cidadã americana e quero continuar a ser", conta Judy Risser, habitante na localidade há 46 anos, ao jornal The Star Tribune, do Minnesota.
E nem o facto de terem de informar as autoridades dos dois países sempre que se querem deslocar aos EUA e de as crianças terem de fazer quase 100 km para ir à escola no Minnesota parece demover os habitantes. "Se eu quisesse mudar de nacionalidade, mudava-me para o Canadá. Não percebo como podia funcionar isso que estão a sugerir. Na verdade, nem sequer levamos isso muito a sério", afirma outra habitante local, Lisa Goulet, à canadiana Global TV.