Pessoa e o modernismo em dicionário de referência

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Edição. Colaboraram à volta de 90 especialistas

Obra é hoje lançada, às 18.30, no Salão Nobre da Câmara de Lisboa

O projecto tem dois anos e em dois anos se fez. O Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português, coordenado por Fernando Cabral Martins, aí está e é hoje lançado, pela Caminho, às 18.30, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Lisboa, no âmbito do Congresso Internacional Fernando Pessoa a decorrer até sexta-feira, em Lisboa (ler texto). A apresentação será feita por Fernando Cabral Martins, Manuel Gusmão, Manuela Parreira da Silva e ainda Teresa Rita Lopes.

Tendo o poeta como centro, esta edição pretende reunir, num puzzle informativo e ensaístico, a soma de conhecimentos actuais sobre a obra do autor da Mensagem, relacionando-a, por vezes de forma inesperada - num sistema de vasos comunicantes -, com este movimento literário e artístico do qual Pessoa foi protagonista.

Mais de oito dezenas de especialistas escrevem quase seis centenas de artigos centrados em Fernando Pessoa sobre títulos, conceitos, imagens, temas, curiosidades, figuras - algumas das quais não conheceram o poeta, mas a ele estão ligadas como Kafka ou Wittgenstein -, traçando-se assim um mapa de um "tempo cultural" de que o autor é o núcleo, o núcleo de todo o Modernismo".

O dicionário não prescinde, por outro lado, de uma certa dose de aventura na escolha de verbetes. É o próprio Fernando Cabral Martins a sublinhá-lo. Relembrem-se, a título de exemplo, entradas como Homero, Alma, Palavra Perdida, Oxímoro, Sensação, Ruba'iyat, Monóculo, repartidas por quase mil páginas da edição, que suscitam a curiosidade de qualquer leitor, especialista ou não.

Por ser quase impossível definir onde começa e onde acaba o movimento, pôs-se de parte a possibilidade de feitura de um Dicionário do Modernismo. Ficou-se então pelo labirinto Pessoa, "pela qualidade planetária" da obra e do homem, que se dá a ver, por vezes de monóculo, qual emblema do seu outro - tal como conta o investigador numa entrada deliciosa -, a páginas 485.

O dicionário tem, por isso, uma dimensão abrangente que procura defender o leitor, do mais elementar ao estudioso, carecendo, porém, de uma listagem indicadora dos artigos que cada um dos intervenientes escreveu. Ficou-se pelo índice onomástico. Consultando-se, no entanto, este caleidoscópico volume, encontra-se, mais ou menos em síntese, o que, afinal, se procura.

A visão que se pretende dar de Pessoa versus modernismo é ampla e cuida dos problemas críticos colocados pela sua produção poética, ficcional, teatral, filosófica e teórica. A relação do poeta com grandes nomes da literatura e do pensamento universais, a partir de ângulos como o político, o científico, o retórico ou o esotérico, dir-se-ia outro dos aspectos aliciantes da obra.

Diz Fernando Cabral Martins que apostou na qualidade dos verbetes e na escolha de mais de 90 especialistas que vão de Teresa Rita Lopes a ele próprio, de José Blanco a Richard Zenith, de Yvette Centeno a Paulo Cardoso, de Manuela Parreira da Silva a Osvaldo Silvestre, de António Cândido Franco a Paula Mourão, de Luísa Medeiros a Jerónimo Pizarro, de Fernando J. B. Martinho a Ana Luísa Amaral, de Manuel Gusmão a Aliete Galhoz.

"É impossível ser-se exaustivo numa obra como esta, salienta o seu coordenador." O surgimento, em discussão com os colaboradores do volume, de uma chuva de novos nomes, perspectivas e temas, só veio confirmar o que já havia sido intuído.

"Mas haverá lá dicionário sem a marca da incompletude?", pergunta Fernando Cabral Martins. É essa bola de neve que a busca do conhecimento traz em si que acabou por tornar esta corajosa empresa fértil.

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